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domingo, maio 21, 2006

Capítulo 15

Luta pela Liberdade


Era agosto de 1534 quando os cidadãos de Genebra resolveram derrubar os quatro subúrbios que ficavam do lado de fora do muro. Queriam que o exército do duque não tivesse onde se abrigar ao aproximar-se da cidade. Isso importava em sacrificar metade da cidade para salvar a outra metade, já que seis mil pessoas residiam nos subúrbios sombreados. Dia após dia os habitantes arrasavam as casas e mansões, as igrejas e mosteiros. Usavam as pedras para consertar o muro da cidade. Os sinos das igrejas foram derretidos e transformados em balas de canhão. Deixando uma larga área arrasada ao seu redor, os habitantes de Genebra se amontoaram dentro do muro da meia-cidade que restava. Atravessaram o inverno aprimorando as suas defesas. Os homens construíam com a terra e pedras que lhes eram levadas pelas mulheres. Farel e Viret estavam nos baluartes com o povo, animando-os, ocupando suas posições nas vigílias noturnas, e participando nos trabalhos.
Em abril de 1535, alguém tentou envenenar os pregadores. Viret ficou grave- mente enfermo. A empregada da casa onde os pregadores estavam hospedados confessou ter colocado veneno na sopa de espinafre. Farel havia sido chamado antes de comer a sopa. A empregada foi julgada e condenada a morte pelos conselhos. Os padres foram acusados de a haverem subornado. Na cidade tensa e apinhada, tal fato produziu reação forte a favor dos pregadores.
Entrementes, o duque fazia o possível para atemorizar Genebra. Interrompia o suprimento de mercadorias para a cidade. Capturava as pessoas que se aventuravam a sair para fora do muro, levando-as para serem torturadas ou para morrer nas masmorras dos seus castelos. Mas demorava em enviar seu exército.
Um segundo debate publico começou em Saint Pierre no mês de junho. Durou quatro semanas. O povo acorria para ouvir os pregadores defender a fé Protestante contra dois monges que chegaram atrasados para defender a Igreja de Roma. Os monges não tinham capacidade para concorrer com os pregadores. O povo aplaudia a causa Protestante. No domingo, dia 8 de agosto de 1535, numa grande manifestação, Farel foi carregado pela rua que levava a Saint Pierre. O povo se aglomerava nas portas e transbordava na praça enquanto Farel pregava o primeiro sermão Protestante no púlpito da catedral.
No dia seguinte, Farel foi convocado para comparecer perante os conselhos. Pleiteou o reconhecimento oficial da fé Protestante. Nos submeteremos alegremente à morte em vossas mãos, disse Farel, se for provado que pregamos qualquer coisa contrária às Sagradas Escrituras. Ajoelhou-se, então, e orou com os conselhos. A sala estava bem quieta ao levantar-se.
Os conselhos também convidaram representantes do clero Católico-Romano para falar a favor da sua fé. Mas esses homens custaram a aparecer. E quando apareceram deram a impressão de desleixo e indiferença. Um deles disse franca- mente que se consideravam homens sem preparo, ensinando unicamente aquilo que seus pais lhes haviam contado.
Com tais provas, os conselhos de Genebra tomaram outra decisão momentosa. Por um edital de 27 de agosto de 1535, a religião de Roma deixou de ser a religião de Genebra. A missa não era mais celebrada. s estátuas e altares por- ventura ainda existentes foram retirados das igrejas. Um das mosteiros foi transformado numa escola primária, com matrícula obrigatória para as crianças. Foi a primeira escola deste tipo em toda a Europa. Outro mosteiro foi transformado num hospital.
Padres, monges, e freiras tiveram a oportunidade de escolher entre ficar ou sair da cidade. Muitos preferiram ir embora. As freiras do convento de Saint Claire pareciam temer que seriam forçadas a casar caso ficassem na Genebra Protestante. Por isso saíram também.Mas algumas não viam o exterior do convento há uns trinta anos. Por isso fizeram uma viagem tenebrosa pelas montanhas, imaginando que cada ovelha ou boi fosse um animal feroz.
A Reforma chegou a Genebra, portanto, de mãos dadas com a liberdade, a liberdade da qual nenhum abitante da pequena cidade estava disposto a abrir mão.
O duque tinha apressado a decisão. Estando o duque ao lado do bispo e do papa, os que prezavam a liberdade inclinavam-se pelos três pregadores e a fé Protestante. O duque estabelecia agora um bloqueio completo, com seus navios no lago e seu exército cercando a cidade. Dentro do muro de Genebra, o povo aglomerado sentia aproximar-se a fome. Um mensageiro conseguiu furar o bloqueio do duque e levar um apelo a Bern. Enquanto o conselho de Bern discutia o assunto, chegou notícia de que os soldados do duque tinham saqueado alguns distritos de Bern nas proximidades de Genebra.
Para proteger seus próprios direitos, Bern não vacilou mais: declarou guerra ao duque e marchou para Genebra com seis mil homens armados. Até o rei Francis I entrou na refrega, levando a França a declarar-se em guerra contra o duque. Francis I conquistou a capital do duque e duas de suas províncias mais ricas durante a sua ausência quando em Genebra.
Era fevereiro de 1536 quando as tropas de Bern chegaram aos portões de Gene- bra. A cidade do lago estava salva! Farel começara a introduzir nova liturgia, nova pregação, e novos regulamentos na nova cidade Protestante. Os conselhos convocaram o povo à catedral de Saint Pierre. Todos ficaram de pé, e juraram, com as mãos levantadas aos céus, que viveriam de acordo com as leis do Evangelho, abandonando os caminhos de Roma. Era domingo, dia 21 de maio, no ano de 1536.
O ano 1536. Em Basel faleceu Erasmus, o sábio holandes, que tinha apontado o caminho para as Escrituras e que depois tinha se desviado daquele caminho. No mesmo ano, na cidade francesa de Nérac, faleceu Lefevre, o velho mestre, a "estrela-d'alva" da Reforma, que tinha vivido mais de um século num mundo atribulado. Foi o ano em que, na Inglaterra, Anne Boleyn, a segunda rainha de Henry VIII, teve a cabeça decepada na Torre de Londres. Foi também o ano em que um jovem viajante teve que dar uma grande volta entre Paris e Strasbourg. Numa noite de agosto, parou para dormir em Genebra, a qual estava ainda se recuperando da luta contra o duque.
O viajante chegou para uma noite de sono. Pretendia continuar a viagem, desapercebido. Mas Deus tinha outros planos.