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terça-feira, maio 16, 2006

Introdução

INTRODUÇÃO

Se o leitor atentar para estes conselhos, lendo-os atenciosamente, como faz com as prescrições dos seus médicos, que não são escritas apenas para serem lidas, mas para serem diariamente observadas, custe o que custar, por amor a sua própria vida; então eu não tenho a menor dúvida, de que não obstante a fraqueza da sua composição, estes conselhos promoverão a cura de sua fraqueza e indisposição espirituais, e dos conseqüentes distúrbios e danos causados a outros e a si mesmo.
Também espero não me deparar com hipócritas maliciosos, os quais sejam tão ímpios e impertinentes, que venham a precipitar-se e oporem-se ao que aconselha, dizendo que estou manifestando a nudez de muitos servos de Cristo para o opróbrio e desonra da religião. Eu tenho demonstrado a vocês, pela Palavra de Deus, que Deus lança - e nós também devemos fazê-lo - a justa desonra sobre o pecador, para que esta não recaia sobre a religião e sobre o próprio Deus. Tenho demonstrado também, que a defesa ou desculpa de pecados odiosos, por pena daqueles que os cometeram, é o modo pior e mais seguro de trazer desonra, cedo ou tarde, tanto para a religião como sobre eles. Um Noé, um Ló, um Davi, um Salomão e um Pedro, serão desonrados por Deus, nos registros divinos de todas as épocas, para que Deus não seja desonrado por eles! O verdadeiro arrependido deseja que assim ocorra; e reputa sua honra um sacrifício muito pequeno a oferecer pela honra da religião a qual ele caluniou. Enquanto você não chegar a este ponto, você está aquém do verdadeiro arrependimento. Aquele que defende seu pecado que se tornou público, a menos que possa negar o fato, faz o mesmo que dizer que Deus gosta disso, que Cristo a isso o constrange, e que as Escrituras são a favor do pecado, e não contra; que a religião ao invés de desaprovar, aprova o pecado; e que esta é a prática dos piedosos. O que pode ser dito de mais blasfemo contra Deus, e de mais injurioso contra a religião, as Escrituras e os santos? Por outro lado, o que confessa seu pecado, faz o mesmo que dizer: Lancem toda a vergonha sobre mim, pois eu mereço; mas não sobre Deus, sobre Cristo, sobre as Escrituras, sobre a religião, ou sobre os servos de Deus; pois não aprendi o pecado de nenhum deles, nem fui encorajado a isso por eles; nem há inimigos maiores do pecado do que eles. Se eu os ouvisse, não teria agido assim. Uma das principais razões pelas quais o arrependimento é tão necessário, é porque faz justiça a Deus e à santidade.
Infelizmente, é tarde demais para ocultar as fraquezas e crimes dos Cristãos, os quais são já bastante visíveis ao mundo; que têm acarretado resultados que se tornaram públicos sobre a igreja, sobre reinos e estados; os quais mantiveram quase que toda a igreja em um estado horrivelmente dilacerado e ensangüentado, por muitos séculos, até os nossos dias; os quais separaram as igrejas do oriente e do ocidente, e desonram ambas; e têm derramado tanto sangue em países Cristãos, e nos tornado como que pessoas enlouquecidas, olhando com prevenção para os nossos vizinhos mais próximos, e fugindo, por impertinente separação, de nossos irmãos, com os quais teremos que conviver nos céus; e tendo erroneamente por inimigos, aqueles com os quais - se somos Cristãos como professamos - estamos unidos sob a mesma Cabeça, e pelo mesmo Espírito, o qual é um espírito de amor.
Em poucas palavras, quando nossas faltas são tão evidentes, que endurecem os infiéis, pagãos e ímpios, e impedem a conversão do mundo; e quando soam tão audivelmente na boca de nossos inimigos comuns; e quando eles, contraíram tanta malignidade, que recusam uma cura por tais guerras, divisões, desolações, pragas e chamas que assolam a igreja, como têm sido visto; então, é tarde demais para dizer aos que pregam o arrependimento: “Calem-se, para que a nudez dos Cristãos e a desgraça da religião e da igreja não seja descoberta.” Nós não podemos calar; senão, desgraçaremos a religião e a igreja, para salvarmos a honra de pecadores.
Qualquer um que leia as Sagradas Escrituras, e tenha entendido a fé Cristã, deve saber que nada, em todo o mundo, é tão contrário a cada um de nossos erros e más obras. É apenas por falta de mais seriedade na religião, que os professos extraviam-se. Nada, senão a doutrina Cristã e a piedade, à princípio, destrói o pecado; e nada mais pode submeter o resto e consumar a cura. A nossa dificuldade maior é que, ao pecar, você não fere apenas a você mesmo com suas iniquidades; famílias são feridas; vizinhos são feridos; igrejas são conturbadas; reinos são afligidos; e milhares de pecadores cegos são endurecidos e perecem eternamente. O marido descrente diz: jamais darei ouvidos a sermões e às Escrituras, nem serei religioso, enquanto vir minha esposa, que fala tanto de religião, ser tão impertinente, descontente, maledicente, indelicada, contenciosa e desobediente quanto aquelas que não têm religião. O patrão profano, diz: eu não gosto de religião, visto que meu servo, que a professa, em minha casa é preguiçoso, negligente, grosseiro, e tão pronto para desonrar-me e responder-me, e tão orgulhoso do seu pouco conhecimento, quanto aqueles que não são religiosos de modo algum. O mesmo eu poderia dizer de todos os outros relacionamentos. Toda a desonra que o pecado traz sobre a graça, provém do fato de vocês terem pouco dela; e é porque a graça é tão pequena sobre vocês, que a vitória dela sobre a carne e paixões de vocês é lamentavelmente imperfeita.
Uma pessoa, ouvindo um elevado elogio de um servo ao seu ex-patrão, de que se tratava de um homem de extraordinária sabedoria, piedade, generosidade, paciência e amabilidade; e que, quão feliz seria, se pudesse apenas morar na casa de tal pessoa; perguntou-lhe: Por que, então, você saiu de lá? Porque embora o meu patrão fosse assim tão bom, a patroa era tão insensata, estrepitosa e cruel, que chegava a bater nos servos; sendo-me impossível continuar no emprego. Assim, a fé, eu espero, é o senhor do coração de vocês; e um senhor tão bom quanto se possa imaginar. Mas a carne é senhora (patroa), quando deveria ser apenas serva. E isto causa tanto transtorno a alguns de vocês, que alguns descrentes de boa índole são companhia que causam menos aborrecimento do que vocês. Eu estranharia se tivessem convicção da própria sinceridade de vocês, enquanto tais vícios carnais e paixões voluntariosas, mantiverem o poder de uma patroa sobre vocês.
Eu sei que muitos se iludem pensando erroneamente que porque lutam contra seus pecados, isto é sinal seguro de que têm o Espírito e são santificados - embora a carne seja a vitoriosa. Eu também sei que muitos são realmente sinceros, e ainda assim são derrotados por paixões impetuosas e inclinações carnais. Mas estou certo de que até que vocês saibam quem predomina, e verdadeiramente governa, vocês jamais saberão se são sinceros. Assim como um servo, enquanto seu patrão e patroa brigavam, respondia a alguém, à porta, que desejava falar com o chefe da casa: “aguarde um momento, até que eu possa ver quem se sai melhor, e então poderei lhe dizer quem é o chefe da casa”; assim, eu realmente temo que para muitos Cristãos, o conflito entre o espírito e a carne é tão duro, e os mantém em dúvida por um período tão prolongado, e os sentimentos, paixões, incredulidade, orgulho, mundanismo e egoísmo prevalecem tanto, que eles têm que esperar um tempo considerável, antes que se convençam com firmeza quanto a quem é o patrão.
Para prosseguir com a minha comparação, no homem em estado de inocência, a razão espiritual era senhor absoluto, e a carne era uma serva submissa, embora ainda tivesse apetites que precisavam ser governados e restringidos. Nos homens ímpios[1], os sentidos e apetites carnais são o senhor, e a razão é uma escrava, embora a razão e ações do Espírito[2] possam apresentar alguma resistência. Em crentes fortes[3], a razão espiritual é senhor, e os sentidos e apetites carnais são escrava, mas uma escrava impertinente e rebelde, domada conforme o grau de graça e vitória espiritual; como um cavalo domado e bem adestrado para ser cavalgado, mas com ajuda de esporas e rédeas. É por isso que Paulo clama: “desventurado homem que sou...” Em um crente fraco, o Espírito é senhor, mas a carne é senhora, e não é mantida na servidão como deveria. Por isso sua vida é maculada com escândalos e sua alma com muitas corrupções desonrosas. Ele é um problema para si mesmo e para outros; o bem que deveria fazer, ele o faz com muita relutância e fraqueza; e o mal, que deveria ser evitado, o é com muita dificuldade. Tanto poder ainda foi deixado em sua carne, que ele está freqüentemente inseguro quanto a sua própria sinceridade; e, ainda assim, é demasiadamente paciente tanto para com seus pecados, quanto para com sua incerteza. Muitas vezes, ele é um problema maior para a igreja do que, qualquer descrente moderado. O hipócrita ou quase Cristão, tem a carne por seu senhor, como outros homens ímpios, mas a razão e a graça comum do Espírito podem ser senhora, e podem ter tal poder e respeito, ao ponto de enganá-lo e levá-lo a uma presunçosa confiança de que a graça é vitoriosa, e de que ele é verdadeiramente espiritual; enquanto que a supremacia ainda é exercida pela carne.
“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça: Ao vencedor dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida” (Ap 2:7). “De nenhum modo sofrerá dano da segunda morte” (Ap 2:11). “Dar-lhe-ei do maná escondido” (Ap 2:17). “Lhe darei autoridade sobre as nações” (Ap 2:26). “Lhe darei a estrela da manhã” (Ap 2:28). “Ao vencedor, eu o confessarei diante de meu Pai e diante dos seus anjos” (Ap 3:5). “Fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus” (Ap 3:12). “Dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono” (Ap 3:21).