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terça-feira, maio 16, 2006

Capítulo 4

CONSELHOS PARA ALCANÇAR A CONFIRMAÇÃO

1o Conselho
Certifique-se de que o fundamento (alicerce) foi bem estabelecido, tanto na cabeça quanto no coração; ou de outro modo você jamais poderá alcançar a confirmação nem ser salvificamente edificado.
Para isto, você deve saber que fundamento é este, e como ele pode ser saudavelmente estabelecido. O fundamento tem duas partes, de acordo com as faculdades da alma aon­de deve ser lançado. A primeira é a verdade da doutrina ou ensino e a segunda é a sua excelência. Como verdade, o fundamento é estabelecido no nosso entendimento; como excelente, na nossa vontade. Com relação a ambas as partes, precisamos primeiramente considerar o conteúdo da fundação, e, então, a maneira como a fundação deve ser rece­bida ou estabelecida.
A fundação é aquele conteúdo ou objeto da nossa fé, esperança e amor, o qual é es­sencial para um crente. Este conteúdo está sempre contido em nosso batismo, porque o batismo é o ato pelo qual nos tornamos crentes visíveis, ou a entrada solene no Cristia­nismo. Portanto, assim como somos batizados no (para dentro do) nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, renunciando a carne, o mundo e o diabo; assim também este ato, sendo sincero, sem engano, e conforme o sentido das palavras das Escrituras, constitui-se na essência do Cristianismo. Assim, o princípio da fundação ou o conteúdo funda­mental é o Deus Pai, Filho e Espírito Santo. A fundação secundária, ou doutrinas fun­damentais, são aquelas proposições das Escrituras que expressão a nossa fé no Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Quando mencionamos as três pessoas como objeto da fé cristã, expressamos os no­mes das relações, que incluem tanto as pessoas, natureza e ofícios ou obras; sem as quais, Deus não seria Deus, Cristo não seria Cristo e o Espírito Santo não seria, no sen­tido de nossos artigos de fé, o Espírito Santo.
Assim como devemos crer que há apenas um único Deus, assim também devemos crer que Deus, o Pai, é o primeiro na santa trindade de pessoas; que toda a divindade é perfeita e infinita em seu ser, poder, sabedoria e bondade, no que todos os seus atributos estão compreendidos - entretanto, uma compreensão distinta de todos os Seus atributos não é absolutamente necessária para a salvação. Devemos crer, também, que este Deus é o criador, mantenedor e “determinado” de todas as coisas, e o dono e soberano da humanidade, justo e misericordioso. E, ainda, que assim como Ele é o princípio de tudo, Ele é o fim último, e o maior bem do homem; e que, portanto, deve ser amado e busca­do acima de tudo. Isto deve ser crido com relação a Divindade, e a pessoa do Pai.
Com relação ao Filho, devemos, além disso, crer que ele é igualmente Deus com o pai, o segundo na trindade, encarnou, e assim se tornou homem, através de uma união pessoal entre a divindade e a humanidade. Devemos crer que ele não teve pecado, nem original nem “fatual” (cometido), tendo uma natureza sem pecado e uma vida sem pe­cado. Que ele cumpriu toda a justiça, e foi morto como um sacrifício por nossos peca­dos, e deu-se a si mesmo em resgate por nós. E que, tendo sido sepultado, ressuscitou da morte, e depois foi assunto ao céu, aonde é Senhor de todos, e intercede pelos crentes. Que ele virá novamente e ressuscitará os mortos, e julgará o mundo, os justos para a vida eterna, e os ímpios para a punição eterna. Que ele é o único redentor, o caminho, a verdade e a vida; e que não há acesso ao Pai senão por ele, nem salvação em nenhum outro.
Com relação ao Espírito Santo, temos que crer que ele é o mesmo único Deus, a ter­ceira pessoa na Trindade, enviado pelo Pai e pelo Filho, para inspirar os profetas e apóstolos; que as doutrinas inspiradas e miraculosamente atestadas por ele são verdadei­ras; que Ele é o santificador daqueles que serão salvos, restaurando neles a imagem de Deus, em santidade e justiça, dando-lhes verdadeiro arrependimento, fé, esperança, amor e sincera obediência; habilitando-os a conquistar a vencerem a carne, o mundo e o diabo; reunindo, assim, uma santa igreja na terra para Cristo, a qual tem, pelo seu san­gue, o perdão de todos s seus pecados, e gozará da bem-aventurança eterna com Deus.
Esta é a essência da fé cristã, com relação ao seu conteúdo. Quanto a maneira de re­cebê-la pelo entendimento, 1) Deve ser recebida como verdade inquestionável da reve­lação de Deus, sob o crédito da Sua palavra, através de uma fé viva e efetiva; penetran­do tão profundamente quanto necessário para que prevaleça sobre a vontade. 2) Deve ser inteiramente recebida, e não apenas uma parte dela. Embora nem todos tenham uma distinta apreensão de cada elemento desta fé, como outros têm, ainda assim, todo crente verdadeiro tem uma verdadeira apreensão desse fundamento da fé cristã. Quanto a al­gumas dessas verdades, embora não expressá-las perfeitamente, sentimos que as com­preendemos verdadeiramente.
Quanto a maneira de recebê-la pela vontade, estas verdades devem ser recebidas de modo que renunciemos a carne, ao mundo, ao diabo e ao eu carnal, que é o coração do velho homem.
Quanto a maneira de receber estas verdades, deve ser sincera, decididamente, sem reservas ou absolutamente, e habitualmente, por uma devoção interna do coração. Esta é a essência do cristianismo; esta é a verdadeira fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo; este é o fundamento, e esta é a maneira correta de estabelecê-lo.
Agora, quero persuadi-los no sentido de que esta fundação seja seguramente estabe­lecida em suas cabeças e corações.
Para que seja seguramente estabelecida na cabeça, vocês devem empenhar-se, 1) A entender estes artigos de fé. 2) A perceberem a evidência da veracidade delas, de modo que possam crer plenamente nelas. 3) A considerarem o valor e necessidade dos assun­tos neles revelados, a fim de que possam apreciá-los sobremaneira. Este é o estabeleci­mento seguro do fundamento na cabeça. Com este propósito, vocês deveriam primeiro aprender alguns catecismos, e ficarem bem familiarizados com os princípios da religi­ão. Leiam também ou ouçam bastante as Escrituras Sagradas, e tirem as dúvidas com os seus mestres e com outros que possam ajudá-los. Atendam a esse conselho, e não dêem nenhum passo mais alto, até que isso seja alcançado. Então, todas as outras verdades, deveres e promessas, devem também ser assim aprendidos, para que sejam edificados sobre esta fundação, e a ela unidos, como que recebendo dela sua vida e vigor; e nunca encarados como que separados desta fundação; nem como mais excelente e necessários.
Por não aprenderem bem e crerem seguramente nestes princípios, essência, ou fun­damento do Cristianismo, alguns dentre nós não podem ir avante, mas permanecem a vida toda em ignorância. Alguns vivem uma profissão de fé cega, enganando-se a si mesmos, edificando sobre a areia, sustentando doutrinas verdadeiras com uma crença falsa e insegura nelas; então, vindo a tempestade, e os ventos batem com força sobre o que edificaram, a casa cai, sendo grande a sua ruína. Com relação alguns, caem com o primeiro assalto de qualquer sedutor que se interesse por eles; e prontamente engolem todo tipo de erro, porque nunca entenderam bem, ou creram firmemente, verdades fun­damentais. Com relação a outros, a edificação não cai senão por ocasião da morte, visto que não passaram por violentas tentações.
Uma vez estabelecido esta fundação no seu entendimento, certifique-se, acima de tudo, que ela seja firmemente estabelecida no seu coração ou vontade. Cuidado, para que não aconteça de ser falsa a sua presunção quanto a sua participação não santa alian­ça. Pode ser que a palavra não tenha alcança a fornalha da alma, e não tenha penetrado na terra e enraizado. Cuidado, pois pode ser que você tenha vindo a Cristo apenas como alguém procura outro em momento de dificuldades. Atente, para que você faça uma en­trega absoluta de si mesmo a Ele.
Oh, é isto o que faz com que alguns, dentre nós, caiam tão rapidamente no dia da provação; com que alguns acovardem-se na adversidade; e com que alguns sejam sedu­zidos pela prosperidade. Um é enganado por posição e honras; outro pela riqueza; outro pelo veneno dos prazeres carnais, e a sua consciência, religião, salvação e tudo o mais é sacrificado pelo seu estômago que devora tudo. Assim, todo o amor e bondade de Deus, o sangue de Cristo, a operação do Espírito, os preceitos e promessas, as advertências da palavra, e a alegria e tormentos nos quais um dia creu; tudo é esquecido, ou perdeu sua força - e tudo porque o alicerce não foi bem estabelecido no início.

2o Conselho
Não pense que, uma vez convertido, tudo está feito; mas lembre-se de que a obra do cristianismo apenas iniciou, e deve durar enquanto você viver.
Quanto a isso, direi pouco agora, visto é o assunto de todas as considerações precedentes. Eu creio o fracasso de muitos provém de imaginarem que, uma vez convertidos, estão tão seguros nas mãos de Cristo, que não precisam mais ter nenhum cuidado, nem nenhum peri­go que devam temer, e que não têm mais nada a fazer para a fim de que salvação deles se concretize. E isto prova que, na verdade, tais pessoas nunca foram realmente convertidas. Eu admito que, quando um homem é verdadeiramente convertido, o perigo principal já não mais existe; ele está seguro no amor e cuido de Cristo, e ninguém poderá tirá-lo das suas mãos. Mas isto é apenas parte da verdade; a outra parte também deve ser reconhecida, junto com esta, ou estaremos nos enganando a nós mesmo. Há ainda uma grande obra a ser reali­zada; e a santidade é o caminho da felicidade. Muito cuidado e diligência é requerido de nós. Que nós seremos salvos por Cristo não é mais certo, do que seremos guardados na fé, amor, e santa obediência a Ele. É tão verdadeiro que ninguém pode nos separar do amor de Deus, do cuidado em agradá-lo e de uma santa diligência no desenvolvimento da nossa salvação, quanto o é, que ninguém pode retirar-nos da sua mão ou levar-nos a um estado de condena­ção. Aquele que está determinado a conduzir-nos para a glória, está igualmente determinado a conduzir-nos para lá pela perseverança em santidade e diligente obediência; pois ele nunca decreta um sem o outro; e ele jamais nos salvará por nenhum outro meio.
Na verdade, quando somos convertidos, escapamos de muitos e sérios perigos; mas ainda há muitos outros diante de nós, dos quais, escapamos só com cuidado e diligência. Fomos transportados da morte para a vida, mas não da terra para os céus. Temos a vida que provém da graça, mas ainda estamos aquém da vida que viveremos na glória. E por que temos a vida que provém da graça, senão para usá-la e vivê-la? Por que viemos à vinha, senão para traba­lhar; e por que ingressamos no exército de Cristo senão para lutar? Por que entramos na corrida senão para ganhar o prêmio; ou, por que nos voltamos para o caminho certo, senão para caminhar nele?
Nós nunca fizemos nenhum serviço fiel a Deus até o dia da nossa conversão. Só então, começamos; e sermos tão entorpecidos ao ponto de pensarmos que tudo já foi feito, quando apenas começamos? Só então vocês começaram a viver; vocês, que antes estavam mortos. Só então acordaram, pois antes estavam dormindo. É apenas agora, que vocês lançaram-se ao mar, e começaram a viagem em direção a terra bendita; devem esperar, portanto, muitas tempestades e ondas. Vocês terão que enfrentar ainda muitas lutas contra a tentação. Muitas orações sinceras ainda terão que fazer. Muitos e muitos deveres a realizar, para Deus e para os homens. Não pensem que concluíram seus cuidados e obra, enquanto não concluírem su­as vidas. Quer tenham sido chamados na primeira hora, ou na última, deverão trabalhar até a noite para receberem o salário. E não pensem que este é um ensino pesado. É um privilégio, alegria e felicidade terrena, que vocês possam ser assim usados. Até então, vocês viveram uma vida animal; mas agora, caminham com Deus, têm intimidade com os céus, conversam com santos e são guardados por anjos. Esta é uma vida que pode ser considerada pesada?
Agora vocês vieram a si, para compreenderem o que podem fazer no mundo, para vive­rem como homens de modo a que possam viver como anjos! Conseqüentemente, deveriam agora começar a colocarem-se em ação. Eu não esperaria que vocês mantivessem os mes­mos temores quanto ao desagrado de Deus, nem as mesmas apreensões quanto a miséria de vocês, nem as dúvidas e perplexidades que sentiram quando da primeira conversão de vocês; pois estas coisas foram ocasionadas pela transformação e fraqueza de graça inicial. A insen­satez anterior de vocês fez necessária estas coisas por um tempo. Mas eu esperaria que man­tivessem o temor de pecar, e muito mais amor a Deus e a Seu serviço, do que no princípio. Tentações rondarão vocês até a última hora das suas vidas. Portanto, para que não venham a cair, terão que vigiar e orar até o fim. Não desistam de vigiar enquanto satanás não desistir de tentar e procurar alcançar vantagem sobre vocês.
A promessa é sob a condição de perseverarem e firmarem-se em Cristo, e continuarem alicerçados e firmes na fé, e saírem vitoriosos, e serem fiéis a té a morte, como em João 15. “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor”. Se vocês começaram resolutamente, prossigam resolutamente. A ruína da alma do homem é pensar que todo o perigo acabou, e deixar de preocupar-se, enquanto ainda estão à caminho. Quando seu cuidado e santo temor declinam, sua vigilância diminui. Então, a sua alma fica aberta e suscetível a todo tipo de paixão. Portanto, saibam disso: a obra da conversão não termina enquanto não chega ao fim a vida de vocês.

3o Conselho
Certifique-se de que compreendeu em que consiste sua confirmação e crescimento, a fim de que não se engane, buscando outra coisa no lugar da verdadeira confirmação; nem aconteça pensar que já é um crente confirmado, quando não é; nem, por outro lado, seja desnecessariamente inquietado quanto a isso, quando na verdade já é um crente confir­mado.
Para ajudá-lo neste propósito, vou mostrar-lhe em que consiste sua confirmação e cres­cimento, nas suas diversas partes, tanto no entendimento, quanto na vontade e sentimentos, quanto na sua conduta.