Capítulo 1
O TEXTO E SUA DOUTRINA
“Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graça” (Cl 2:6-7).
Assim como os ministros, na Palavra de Deus, são chamados pais daqueles que são convertidos através do ministério deles, também são comparados às mães, que a eles dão à luz, até que Cristo seja formado neles. Como Cristo disse, “A mulher quando está para dar a luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem”. Assim também, enquanto estamos buscando e ansiando pela conversão de vocês, e estamos em trabalho de parto até que nasçam de novo; não apenas nossos labores, mas muito mais nossos temores e cuidados, e sentimentos com relação ao perigo e miséria de vocês, faz com que o tempo nos pareça demasiadamente longo. Oh, quão felizes seríamos se a maioria dos membros de nossas igrejas fossem convertidos! Quando apenas podemos ver aqui e ali, um vir para casa, não mais nos lembramos das nossas angústias, temores e tristezas, nem pensamos em todos os nossos labores, diante da alegria de um cristão ser um recém-nascido em Cristo. Mas, não obstante toda a alegria da mãe, seu trabalho, cuidado e sofrimento, não chegaram ao fim quando ela deu à luz. Quanta dedicação, quantas horas de dificuldades, e quantas noites acordada serão ainda exigidas dela, por causa da criança com a qual agora se alegra tanto. E depois, quantos anos de cuidado e dedicação para criá-la e prover suas necessidades no mundo; e quando a mãe envelhece, e espera receber o amor, a honra, a gratidão e conforto que lhe são devidos como mãe, por todos os seus labores, cuidados e sofrimentos, um filho pode revelar-se grato, e outro já não tão agradecido assim, enquanto que um terceiro talvez venha a partir-lhe o coração; mas ainda assim, ela continuará sendo a mãe de todos eles.
O mesmo se aplica a nós. Tendo nos alegrado grandemente pela aparente ou real conversão de uns e outros dentre os nossos ouvintes, nosso trabalho para com eles não terminou, nem podemos desvencilhar-nos de nossos cuidados e labores por eles. Normalmente temos que cuidar deles e alimentá-los por alguns anos; e muitos dias e noites de dificuldade, de fraqueza, de impurezas, de impertinência, de criancice, de querelas e de disposições para rixas dos nossos convertidos nos afligirão. E depois de tudo isso, quando começarem a andar com suas próprias pernas e a pensar que são suficientes por si mesmos sem a nossa ajuda, quantas quedas e ferimentos poderão experimentar, e quantas brigas terão uns com os outros para aflição deles e nossa. E quando se tornarem adultos, alguns que pareciam sinceros podem tornar-se pródigos ou apóstatas; alguns caem em contenda por causa da herança e provocam terríveis divisões na família de Cristo; e alguns talvez nos desprezem; a nós, que gastamos nossos dias e esforços em estudos, orações, temores, cuidados e labores pela salvação deles. Sim, talvez alguns até nos tratem com desrespeito e reprovem nossas pessoas e nossos próprios ofícios e chamados, como a experiência dos tempos em que vivemos, assim como a experiência de todas as épocas evidente e claramente testificam.
Por outro lado, alguns serão fiéis e perseverantes, e agradecidos a Cristo e a nós. E para que assim o seja, por amor a Cristo e para o bem deles mesmo, ainda é exigido o nosso cuidado, empenho e esforços. Nestes diversos casos encontramos o apóstolo Paulo tratando seus filhos em suas epístolas; às vezes regozijando-se na firmeza deles; às vezes defendendo a si mesmo a ao seu ministério contra a ingratidão e contendas infantis deles - como com relação aos Coríntios; às vezes, embora raramente, corrigindo severamente o obstinado, entregando-o a Satanás como advertência aos demais. Às vezes ele está ansioso quanto ao estado de alguns, como é o caso quando se encontram doentes, infectados com erros perigosos ou outras doenças; quando ele chega até mesmo a questionar quanto à salvação deles, para que não aconteça de ter trabalhado em vão, e eles venham a apartar-se da graça, e Cristo de nada lhes aproveite.
Com relação à maioria, entretanto, encontramos o apóstolo como alguém que está entre a esperança e a apreensão quanto ao estado espiritual deles; aconselhando-os e exortando-os à firmeza, crescimento e perseverança espirituais até o fim. E é exatamente isso o que ele está fazendo com relação aos Colossenses, neste texto; o qual contém: 1) A suposição de uma grande obra (a maior obra) já realizada; qual seja, que eles receberam ao Senhor Jesus Cristo. 2) Uma implicação de um dever subseqüente e uma exortação nele fundamentada, que é a confirmação e progresso deles. As etapas desse dever são expressas através de três metáforas. A primeira é tomada de uma árvore ou planta: “nele radicados”. Após recebermos a Cristo, há um enraizamento nele a ser buscado. A segunda, é tomada de uma construção: nele “edificados”, como uma casa sobre o alicerce. A terceira etapa é tomada daquelas colunas de sustentação que estão firmemente estabelecidas sobre o alicerce: “estabelecidos ou confirmados na fé”.
Tendo mencionado a fé - para que eles não se deixassem levar pelas inovações e fantasias humanas com relação a uma falsa fé - ele acrescenta, “tal como fostes instruídos”, para mostrar-lhes qual a natureza da fé ou religião é esta na qual devem estabelecer-se; ou seja: aquela em que foram ensinados pelos apóstolos. E finalmente, ele expressa a medida que deveriam almejar, e um modo especial no qual a fé deveria ser exercitada: “abundando (crescendo) em ações de graças”. Tudo isto está compreendido na expressão andar com Cristo (“assim andai nele”). Desse modo, a vida cristã como um todo é dividida em duas partes: receber a Cristo e andar nele.
As principais questões a serem respondidas, no texto, são as seguintes: 1) O que significa receber a Cristo Jesus? 2) O que significa andar nele? 3) O que significa estar radicado nele? 4) O que significa estar edificado nele? 5) O que significa ser confirmado ou estabelecido na fé? 6) O que o apóstolo quer dizer com a explicação “tal como fostes instruídos”? 7) E o que significa “crescendo (ou abundando) em ações de graças”?
Quanto à primeira questão, deve-se observar o ato e o objeto. O ato é “receber”; o objeto é “Cristo Jesus, o Senhor”. Receber a Cristo, não é somente, como alguns comentadores afirmam equivocadamente, receber sua doutrina; embora seja certo que sua doutrina deva ser recebida, e que o resto está implícito nisso. Mas quando o entendimento aquiesce em receber o evangelho, a vontade, de comum acordo, igualmente o recebe; e receber a Cristo inclui ambos. Esta é a verdadeira fé justificadora dos eleitos de Deus. Não se trata, portanto, de uma recepção passiva, como a madeira recebe o fogo, e as nossas almas recebem as graças do Espírito; mas, sim, de uma recepção moral ativa. Receber a Cristo como Cristo, como o Messias ungido, e como nosso Salvador e Senhor, é crer que ele é tudo isso, e consentir que ele seja tudo isso para nós, e confiar nele, e confiar-nos a ele como tal. Se vocês acreditam sinceramente que o evangelho é verdadeiro, esta fé tem que ser suficientemente forte para vos levar à determinação de confiarem a felicidade de vocês à esta fé, e a abdicarem a tudo pela esperança que é colocada diante de vocês. Se Cristo, na sua relação como pleno e perfeito Salvador, for recebido de coração por vocês; se vocês anuírem à oferta do evangelho, e estiverem verdadeiramente desejosos de ser dele, fé não é apenas mencionada como “receber a Cristo”, mas é também freqüentemente expressa em termos de “querer Cristo”. Portanto, a promessa é para todos quantos quiserem; e aos ímpios é negado terem parte em Cristo, porque não querem que ele reine sobre si; e isto, porque não são crentes verdadeiros ou discípulos de Cristo. Se vocês, portanto, anuírem em ter a Cristo como Salvador, mestre e Senhor, devem, necessariamente, depender dele e confiar inteiramente nele, como tal; devem confiar nele para libertação da culpa, do poder e da condenação do pecado, e para vivificação, fortalecimento, e perseverança na graça, e para a vida eterna; devem confiar-se a ele, como discípulos, para aprender dele, seguros de que ele ensinará a vocês infalivelmente o caminho da felicidade; e devem entregar-se a ele seguros de que ele vos governará em verdade e retidão para a salvação, e vos defenderá dos inimigos destruidores. É nisto que consiste a fé, ou receber a Cristo Jesus, o Senhor.
Quanto à segunda questão (O que significa andar nele?), nada mais é do que viver como cristãos, quando, tendo uma vez nos tornado cristãos, nos apegamos a Cristo para alcançarmos os fins para os quais o recebemos, quando um dia o fizemos. Duas coisas são necessárias para aqueles que estão perdidos: a primeira é encontrar o caminho correto; e isto significa encontrar Cristo, o qual é o caminho. A outra é, tendo-o encontrado, caminhar por ele; pois apenas encontrar o caminho não nos leva ao fim da nossa jornada.
As próximas palavras a serem explicadas são “radicados nele”. Isto não significa simplesmente que ninguém está realmente plantado em Cristo sem que esteja de algum modo enraizado nele. “Radicados”, significa “profundamente enraizados”; pois as raízes aprofundam-se na terra assim como a árvore cresce sobre ela. As raízes têm duas funções, e ambas são aqui sugeridas: A primeira diz respeito à firmeza da árvore, para que a força dos ventos não a derrubem. A segunda, diz respeito à sua nutrição; pois por meio delas a árvore recebe os nutrientes da terra, a fim de que possa ser preservada, crescer e frutificar. Nisso consiste o enraizamento do cristão em Cristo, a fim de que ele possa estar bem firmado nele contra todas as investidas, e possa retirar dele os nutrientes necessários para crescer e frutificar.
O próximo termo é “edificados nele”. Casa alguma consiste apenas de alicerces. Cinco coisas são expressamente indicadas com este termo. A primeira é que estamos unidos ou associados a ele, como uma edificação está com o alicerce. A segunda, é que estamos firmados totalmente nele, o qual é o nosso suporte, assim como a construção o está no alicerce ou fundação. A terceira é que estamos unidos também uns aos outros, tendo nos tornado um edifício espiritual no Senhor. A quarta, é que a construção aumenta em tamanho, assim como uma casa que está sendo construída, de modo que resulta no nosso crescimento na graça e no crescimento da igreja por nosso intermédio. A quinta, é a adequação do prédio ao fim e uso para o qual foi planejado; até que seja construída, a casa não está devidamente apropriada para ser habitada. E até que os crentes estejam edificados, Deus não pode usá-los plenamente para o propósito que planejou para eles.
O termo seguinte é “estabelecidos ou confirmados na fé”. Isto significa aquele nosso fortalecimento e firmeza que impedem nossa queda ou abalo; e compreende duas coisas. Primeiro, que estamos fundamentados em Cristo, o qual é o nosso alicerce. Segundo, que estamos cimentados e firmemente unidos uns aos outros. Esta confirmação compreende nossa estabilidade na doutrina ou fé; por isso o apóstolo acrescenta “conforme fostes instruídos”, para fortificar os colossenses contra heresias, que não passam de inovações; para que, assim, eles pudessem testar as doutrinas que posteriormente viessem a ser-lhes oferecidas; e se apegassem firmemente àquelas que haviam sido ensinadas pelos apóstolos. A seguir, Paulo exorta-os a “abundarem”, para que soubessem que não se trata de algo sem maior importância; a fim de que não se acomodassem com um grau pequeno de graça ou dever. E lhes é exortado que abundem especialmente em ações de graça, que é um dever evangélico e celestial, que tão admiravelmente convém a um povo que tem parte em tão admirável salvação; e é tão apropriado diante das misericórdias de Deus e de nosso estado, e das expectativas de Deus. Assim como o evangelho determina que o amor e a graça de Deus, através da obra bendita do nosso Redentor, sejam eternamente louvados e magnificados na igreja; assim também as manifestações de amor, louvor e alegria devem ser as mais abundantes de todos os nossos sentimentos e ações.
Tendo fornecido essas explicações, vocês podem compreender o sentido e doutrina do texto que podem ser claramente assim expressos:
Aqueles que salvificamente receberam ao Senhor Jesus Cristo, ao invés de descansarem neste estado como se tudo já houvesse sido alcançado, devem passar o resto de seus dias andando nele, enraizados e edificados nele, confirmados na fé como os apóstolos ensinaram, e abundando especialmente em alegres louvores ao nosso Redentor.
Visto que meu propósito é apenas orientar crentes recém-convertidos sobre como eles podem tornar-se edificados e confirmados em Cristo, deixarei de lado tudo o mais que um tratamento completo deste texto exigiria; e irei apenas: I. Dar uma breve idéia do que é esta confirmação e edificação, a qual será mais plenamente revelada nas orientações. II. Mostrar a necessidade de buscar esta confirmação. III. Orientar sobre como vocês podem alcançá-la.
“Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graça” (Cl 2:6-7).
Assim como os ministros, na Palavra de Deus, são chamados pais daqueles que são convertidos através do ministério deles, também são comparados às mães, que a eles dão à luz, até que Cristo seja formado neles. Como Cristo disse, “A mulher quando está para dar a luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem”. Assim também, enquanto estamos buscando e ansiando pela conversão de vocês, e estamos em trabalho de parto até que nasçam de novo; não apenas nossos labores, mas muito mais nossos temores e cuidados, e sentimentos com relação ao perigo e miséria de vocês, faz com que o tempo nos pareça demasiadamente longo. Oh, quão felizes seríamos se a maioria dos membros de nossas igrejas fossem convertidos! Quando apenas podemos ver aqui e ali, um vir para casa, não mais nos lembramos das nossas angústias, temores e tristezas, nem pensamos em todos os nossos labores, diante da alegria de um cristão ser um recém-nascido em Cristo. Mas, não obstante toda a alegria da mãe, seu trabalho, cuidado e sofrimento, não chegaram ao fim quando ela deu à luz. Quanta dedicação, quantas horas de dificuldades, e quantas noites acordada serão ainda exigidas dela, por causa da criança com a qual agora se alegra tanto. E depois, quantos anos de cuidado e dedicação para criá-la e prover suas necessidades no mundo; e quando a mãe envelhece, e espera receber o amor, a honra, a gratidão e conforto que lhe são devidos como mãe, por todos os seus labores, cuidados e sofrimentos, um filho pode revelar-se grato, e outro já não tão agradecido assim, enquanto que um terceiro talvez venha a partir-lhe o coração; mas ainda assim, ela continuará sendo a mãe de todos eles.
O mesmo se aplica a nós. Tendo nos alegrado grandemente pela aparente ou real conversão de uns e outros dentre os nossos ouvintes, nosso trabalho para com eles não terminou, nem podemos desvencilhar-nos de nossos cuidados e labores por eles. Normalmente temos que cuidar deles e alimentá-los por alguns anos; e muitos dias e noites de dificuldade, de fraqueza, de impurezas, de impertinência, de criancice, de querelas e de disposições para rixas dos nossos convertidos nos afligirão. E depois de tudo isso, quando começarem a andar com suas próprias pernas e a pensar que são suficientes por si mesmos sem a nossa ajuda, quantas quedas e ferimentos poderão experimentar, e quantas brigas terão uns com os outros para aflição deles e nossa. E quando se tornarem adultos, alguns que pareciam sinceros podem tornar-se pródigos ou apóstatas; alguns caem em contenda por causa da herança e provocam terríveis divisões na família de Cristo; e alguns talvez nos desprezem; a nós, que gastamos nossos dias e esforços em estudos, orações, temores, cuidados e labores pela salvação deles. Sim, talvez alguns até nos tratem com desrespeito e reprovem nossas pessoas e nossos próprios ofícios e chamados, como a experiência dos tempos em que vivemos, assim como a experiência de todas as épocas evidente e claramente testificam.
Por outro lado, alguns serão fiéis e perseverantes, e agradecidos a Cristo e a nós. E para que assim o seja, por amor a Cristo e para o bem deles mesmo, ainda é exigido o nosso cuidado, empenho e esforços. Nestes diversos casos encontramos o apóstolo Paulo tratando seus filhos em suas epístolas; às vezes regozijando-se na firmeza deles; às vezes defendendo a si mesmo a ao seu ministério contra a ingratidão e contendas infantis deles - como com relação aos Coríntios; às vezes, embora raramente, corrigindo severamente o obstinado, entregando-o a Satanás como advertência aos demais. Às vezes ele está ansioso quanto ao estado de alguns, como é o caso quando se encontram doentes, infectados com erros perigosos ou outras doenças; quando ele chega até mesmo a questionar quanto à salvação deles, para que não aconteça de ter trabalhado em vão, e eles venham a apartar-se da graça, e Cristo de nada lhes aproveite.
Com relação à maioria, entretanto, encontramos o apóstolo como alguém que está entre a esperança e a apreensão quanto ao estado espiritual deles; aconselhando-os e exortando-os à firmeza, crescimento e perseverança espirituais até o fim. E é exatamente isso o que ele está fazendo com relação aos Colossenses, neste texto; o qual contém: 1) A suposição de uma grande obra (a maior obra) já realizada; qual seja, que eles receberam ao Senhor Jesus Cristo. 2) Uma implicação de um dever subseqüente e uma exortação nele fundamentada, que é a confirmação e progresso deles. As etapas desse dever são expressas através de três metáforas. A primeira é tomada de uma árvore ou planta: “nele radicados”. Após recebermos a Cristo, há um enraizamento nele a ser buscado. A segunda, é tomada de uma construção: nele “edificados”, como uma casa sobre o alicerce. A terceira etapa é tomada daquelas colunas de sustentação que estão firmemente estabelecidas sobre o alicerce: “estabelecidos ou confirmados na fé”.
Tendo mencionado a fé - para que eles não se deixassem levar pelas inovações e fantasias humanas com relação a uma falsa fé - ele acrescenta, “tal como fostes instruídos”, para mostrar-lhes qual a natureza da fé ou religião é esta na qual devem estabelecer-se; ou seja: aquela em que foram ensinados pelos apóstolos. E finalmente, ele expressa a medida que deveriam almejar, e um modo especial no qual a fé deveria ser exercitada: “abundando (crescendo) em ações de graças”. Tudo isto está compreendido na expressão andar com Cristo (“assim andai nele”). Desse modo, a vida cristã como um todo é dividida em duas partes: receber a Cristo e andar nele.
As principais questões a serem respondidas, no texto, são as seguintes: 1) O que significa receber a Cristo Jesus? 2) O que significa andar nele? 3) O que significa estar radicado nele? 4) O que significa estar edificado nele? 5) O que significa ser confirmado ou estabelecido na fé? 6) O que o apóstolo quer dizer com a explicação “tal como fostes instruídos”? 7) E o que significa “crescendo (ou abundando) em ações de graças”?
Quanto à primeira questão, deve-se observar o ato e o objeto. O ato é “receber”; o objeto é “Cristo Jesus, o Senhor”. Receber a Cristo, não é somente, como alguns comentadores afirmam equivocadamente, receber sua doutrina; embora seja certo que sua doutrina deva ser recebida, e que o resto está implícito nisso. Mas quando o entendimento aquiesce em receber o evangelho, a vontade, de comum acordo, igualmente o recebe; e receber a Cristo inclui ambos. Esta é a verdadeira fé justificadora dos eleitos de Deus. Não se trata, portanto, de uma recepção passiva, como a madeira recebe o fogo, e as nossas almas recebem as graças do Espírito; mas, sim, de uma recepção moral ativa. Receber a Cristo como Cristo, como o Messias ungido, e como nosso Salvador e Senhor, é crer que ele é tudo isso, e consentir que ele seja tudo isso para nós, e confiar nele, e confiar-nos a ele como tal. Se vocês acreditam sinceramente que o evangelho é verdadeiro, esta fé tem que ser suficientemente forte para vos levar à determinação de confiarem a felicidade de vocês à esta fé, e a abdicarem a tudo pela esperança que é colocada diante de vocês. Se Cristo, na sua relação como pleno e perfeito Salvador, for recebido de coração por vocês; se vocês anuírem à oferta do evangelho, e estiverem verdadeiramente desejosos de ser dele, fé não é apenas mencionada como “receber a Cristo”, mas é também freqüentemente expressa em termos de “querer Cristo”. Portanto, a promessa é para todos quantos quiserem; e aos ímpios é negado terem parte em Cristo, porque não querem que ele reine sobre si; e isto, porque não são crentes verdadeiros ou discípulos de Cristo. Se vocês, portanto, anuírem em ter a Cristo como Salvador, mestre e Senhor, devem, necessariamente, depender dele e confiar inteiramente nele, como tal; devem confiar nele para libertação da culpa, do poder e da condenação do pecado, e para vivificação, fortalecimento, e perseverança na graça, e para a vida eterna; devem confiar-se a ele, como discípulos, para aprender dele, seguros de que ele ensinará a vocês infalivelmente o caminho da felicidade; e devem entregar-se a ele seguros de que ele vos governará em verdade e retidão para a salvação, e vos defenderá dos inimigos destruidores. É nisto que consiste a fé, ou receber a Cristo Jesus, o Senhor.
Quanto à segunda questão (O que significa andar nele?), nada mais é do que viver como cristãos, quando, tendo uma vez nos tornado cristãos, nos apegamos a Cristo para alcançarmos os fins para os quais o recebemos, quando um dia o fizemos. Duas coisas são necessárias para aqueles que estão perdidos: a primeira é encontrar o caminho correto; e isto significa encontrar Cristo, o qual é o caminho. A outra é, tendo-o encontrado, caminhar por ele; pois apenas encontrar o caminho não nos leva ao fim da nossa jornada.
As próximas palavras a serem explicadas são “radicados nele”. Isto não significa simplesmente que ninguém está realmente plantado em Cristo sem que esteja de algum modo enraizado nele. “Radicados”, significa “profundamente enraizados”; pois as raízes aprofundam-se na terra assim como a árvore cresce sobre ela. As raízes têm duas funções, e ambas são aqui sugeridas: A primeira diz respeito à firmeza da árvore, para que a força dos ventos não a derrubem. A segunda, diz respeito à sua nutrição; pois por meio delas a árvore recebe os nutrientes da terra, a fim de que possa ser preservada, crescer e frutificar. Nisso consiste o enraizamento do cristão em Cristo, a fim de que ele possa estar bem firmado nele contra todas as investidas, e possa retirar dele os nutrientes necessários para crescer e frutificar.
O próximo termo é “edificados nele”. Casa alguma consiste apenas de alicerces. Cinco coisas são expressamente indicadas com este termo. A primeira é que estamos unidos ou associados a ele, como uma edificação está com o alicerce. A segunda, é que estamos firmados totalmente nele, o qual é o nosso suporte, assim como a construção o está no alicerce ou fundação. A terceira é que estamos unidos também uns aos outros, tendo nos tornado um edifício espiritual no Senhor. A quarta, é que a construção aumenta em tamanho, assim como uma casa que está sendo construída, de modo que resulta no nosso crescimento na graça e no crescimento da igreja por nosso intermédio. A quinta, é a adequação do prédio ao fim e uso para o qual foi planejado; até que seja construída, a casa não está devidamente apropriada para ser habitada. E até que os crentes estejam edificados, Deus não pode usá-los plenamente para o propósito que planejou para eles.
O termo seguinte é “estabelecidos ou confirmados na fé”. Isto significa aquele nosso fortalecimento e firmeza que impedem nossa queda ou abalo; e compreende duas coisas. Primeiro, que estamos fundamentados em Cristo, o qual é o nosso alicerce. Segundo, que estamos cimentados e firmemente unidos uns aos outros. Esta confirmação compreende nossa estabilidade na doutrina ou fé; por isso o apóstolo acrescenta “conforme fostes instruídos”, para fortificar os colossenses contra heresias, que não passam de inovações; para que, assim, eles pudessem testar as doutrinas que posteriormente viessem a ser-lhes oferecidas; e se apegassem firmemente àquelas que haviam sido ensinadas pelos apóstolos. A seguir, Paulo exorta-os a “abundarem”, para que soubessem que não se trata de algo sem maior importância; a fim de que não se acomodassem com um grau pequeno de graça ou dever. E lhes é exortado que abundem especialmente em ações de graça, que é um dever evangélico e celestial, que tão admiravelmente convém a um povo que tem parte em tão admirável salvação; e é tão apropriado diante das misericórdias de Deus e de nosso estado, e das expectativas de Deus. Assim como o evangelho determina que o amor e a graça de Deus, através da obra bendita do nosso Redentor, sejam eternamente louvados e magnificados na igreja; assim também as manifestações de amor, louvor e alegria devem ser as mais abundantes de todos os nossos sentimentos e ações.
Tendo fornecido essas explicações, vocês podem compreender o sentido e doutrina do texto que podem ser claramente assim expressos:
Aqueles que salvificamente receberam ao Senhor Jesus Cristo, ao invés de descansarem neste estado como se tudo já houvesse sido alcançado, devem passar o resto de seus dias andando nele, enraizados e edificados nele, confirmados na fé como os apóstolos ensinaram, e abundando especialmente em alegres louvores ao nosso Redentor.
Visto que meu propósito é apenas orientar crentes recém-convertidos sobre como eles podem tornar-se edificados e confirmados em Cristo, deixarei de lado tudo o mais que um tratamento completo deste texto exigiria; e irei apenas: I. Dar uma breve idéia do que é esta confirmação e edificação, a qual será mais plenamente revelada nas orientações. II. Mostrar a necessidade de buscar esta confirmação. III. Orientar sobre como vocês podem alcançá-la.
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