VOCÊ NÃO ESTÁ NA PÁGINA PRINCIPAL. CLIQUE AQUI PARA RETORNAR





terça-feira, maio 16, 2006

Capítulo 3

INCENTIVOS PARA BUSCAR A CONFIRMAÇÃO NA FÉ

Prosseguirei agora, para persuadi-los com relação à importância de buscar esta confirmação, para que os conselhos que darei a seguir, não venham a ser desperdiçados, devido às mentes entorpecidas e despreparadas dos leitores. Posteriormente, então, darei os conselhos propriamente ditos, os quais constituem a intenção principal deste livro. Vamos, primeiro, aos incentivos.

1o Incentivo
Considerem que o ingresso de vocês no cristianismo é um compromisso de prosseguir. Ter recebido a Cristo os obriga a andar e crescer nele. O cristianismo lhes impõe uma obrigação quádrupla para que possam fortalecer-se e perseverar:
1. A primeira provém da própria natureza do cristianismo; e até mesmo do ofício de Cristo, e do uso e fim para o qual O recebemos. Vocês receberam a Cristo como a um médico para as doenças das almas de vocês; e isto, porventura, não os compromete a prosseguir a fazer uso dos medicamentos por Ele prescritos até ficarem curados? Para que as pessoas recorrem a um médico, senão para serem curadas? Somente um paciente muito tolo diria: “Embora a minha doença seja mortal e eu tenha conseguido o melhor médico, não preciso fazer mais nada, e ainda assim não duvido que serei curado”. Vocês receberam a Cristo como Salvador; e isso os obriga a fazer uso dos meios de salvação e a submeterem-se às Suas obras salvadoras. Vocês O receberam como professor e mestre; e comprometeram-se a ser discípulos dEle. E que sentido teria tudo isso, se não prosseguissem em aprender dEle? Seria uma tola presunção alguém pensar que é um bom aluno simplesmente por haver escolhido um bom professor ou tutor, sem que dele aprenda. Quando Cristo enviou seus apóstolos, foi com estas duas tarefas: primeiro, para fazer discípulos de todas as nações e batizá-los; e, então, prosseguir, ensinando-os a observar tudo o que Ele havia ordenado. Cristo é o caminho para o Pai; mas com que propósito vocês vieram para este caminho, se não tencionam caminhar nele?
2. Além disso, quando vocês se tornaram cristãos, entraram em solene aliança com Cristo; e comprometeram-se com promessas de serem fiéis a Ele até a morte; e este voto está sobre vocês. “É melhor não fazer votos, do que fazê-lo e não cumprir”. Tendo aceito a Cristo como capitão da salvação de vocês, e alistado-se sob seu comando, e jurado fidelidade a Ele, vocês se comprometeram a combater como fiéis soldados, sob Sua direção e comando, até o fim da vida. E assim como é tolo o soldado que pensa que nada mais tem a fazer, senão alistar-se e ganhar uma farda, sem ter que combater; assim também é tolo e ímpio aquele que professa a fé cristã pensando que nada tem a fazer senão prometer; quando a promessa teve o propósito de comprometê-lo a prosseguir.
3. Além disso, quando vocês se tornaram cristãos, colocaram-se sob as leis de Cristo; e estas leis requerem que prossigam até que sejam confirmados; de modo que devem ir avante ou renunciar obediência a Cristo.
4. Finalmente, quando vocês receberam a Cristo, receberam tão abundantes misericórdias, que estão obrigados a ter sentimentos mais elevados e mais obediência para com Deus. Alguém que foi recém-arrebatado da garganta do inferno, e que recebeu o livre perdão dos seus pecados, e que foi colocado em tal estado abençoado como vocês o foram, devem, necessariamente, compreender a abundância do dever que têm para com Deus, de prosseguir e alcançar vontade e sentimentos mais fortes; e não satisfazer-se com o grau insuficiente do princípio.
Se vocês considerarem essas quatro coisas, poderão perceber que o próprio propósito de terem recebido a Cristo, foi a fim de que pudessem andar nEle e serem confirmados e edificados.

2o Incentivo.
Considerem, também, que a conversão não é sadia, se vocês não estão sinceramente desejosos de crescer. A graça não é verdadeira, se não houver desejo de maior porção dela; sim, se não houver desejo de alcançar a própria perfeição. Uma criança não nasce para permanecer criança, pois isso seria monstruoso; mas para crescer e alcançar a maturidade. Assim como o reino de Cristo neste mundo é comparado por Ele a um pouco de fermento e a um grão de mostarda, no início, que depois cresce de modo espantoso; assim o Seu reino na alma é também da mesma natureza. Se vocês estão contentes com a porção de graça que têm, vocês não têm graça alguma, mas apenas uma sombra ou imitação dela. Será que alguém acha que deve racionar a santidade e argumentar que se deve ser moderado quanto a isso; como se fosse intemperança amar a Deus, temê-lO, buscá-lO e obedecê-lO mais do que o fazem - como se estivéssemos em perigo de excesso ao fazer isso? Se uma pessoa sincera e por experiência souber o que é a santidade, jamais poderá conceber tal idéia.

3o Incentivo
Considerem quanto labor desperdiçarão e quantas esperanças terão sido frustradas, se não prosseguirem até virem a ser enraizados em um estado de confirmação. Eu não digo que tais pessoas fossem verdadeiramente santificadas; o que eu digo é que estavam em um caminho esperançoso e na direção correta; e que, se houvessem prosseguido, poderiam ter alcançado a salvação. O coração de muitos ministros alegrara-se bastante por ver seus ouvintes humilhados, deplorando seus pecados, mudando suas mentes e vidas, e professando externamente a piedade; para, alguns anos depois, ver sua alegria transformada em tristeza; e alguém que alimentávamos a esperança de ser convertido, esfriar e perder sua disposição inicial; e outro cair na mais completa sensualidade, e tornar-se um beberrão, fornicador ou jogador; e outro voltar-se para o mundo e transformar seu aparente zelo em amor pela riqueza e cuidados desta vida; e outros serem enganados por algum charlatão e infectados com erros mortais, abandonarem seus deveres, e entregarem-se como instrumentos de Satanás para dividir a igreja, oporem-se ao evangelho, e desacreditarem e injuriarem ministros e crentes; para enfraquecerem as mãos dos construtores e fortalecerem os ímpios, e servirem aos inimigos secretos da verdade. Aqueles que um dia confortaram o nosso coração com a esperança de serem convertidos, quebram o nosso coração com suas apostasias e subversões, e tornam-se grandes obstáculos na obra de Cristo, e pragas maiores para a igreja de Deus, do que aqueles que nunca professaram ser religiosos. Aqueles que costumavam unirem-se a nós no culto santo e conosco iam à casa de Deus como irmãos nossos, depois desprezam ambos, os adoradores e o culto. Se tais pessoas estivessem enraizadas e confirmadas, vocês jamais as veriam cair neste miserável estado. Oh, quantas orações, confissões, e deveres estas pessoas desperdiçaram! Por quantos anos alguns deles pareciam religiosos, para depois manifestarem-se apóstatas e serem engolidos completamente pelo mundo, pela carne, pelo orgulho e pelo erro.
Considerem, portanto, o quanto vocês necessitam estar enraizados, confirmados e edificados em Cristo.

4o Incentivo
Considerem também, quanto da obra da salvação de vocês ainda está por acontecer. Felizmente vocês começaram; mas ainda não terminaram. Vocês encontraram o caminho certo, mas ainda têm uma jornada para caminhar. Escolheram o melhor comandante e estão em companhia dos melhores soldados; mas ainda têm muitas batalhas para combater. Se vocês são realmente cristãos, sabem que ainda têm muita corrupção para resistir e conquistar, muitas tentações para vencer, e muita obra necessária por fazer; e esta obra é tão necessária quanto a obra inicial (de conversão). Este é o propósito da conversão de vocês: que “renegadas e as paixões mundanas, vivam no presente século, sensata, justa e piedosamente - pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Como é que crianças poderiam efetuar todas essas obras? Quem de vocês desejaria ter uma criança ou um inválido para ser seu servo? Embora Deus seja mais misericordioso do que o homem a esse respeito, ainda assim, Ele espera que vocês não permaneçam sempre crianças. Que obra pode se esperar que você faça para Ele nesta condição deficiente e fraca? Que cegueira lastimável, que um homem que saiba que tem uma alma para ser salva, pense que o vigor de uma criança seja suficiente para estas obras e dificuldades que estão entre nós e a vida eterna! Nas coisas desta vida, você percebe a necessidade de vigor e força. Você não acha que uma criança esteja habilitada para arar ou plantar, colher, ceifar, viajar ou agir como um soldado; e ainda assim, você ficará satisfeito com o vigor de uma criança para realizar estas grandes e incomparáveis obras relacionadas com a sua salvação.

5o Incentivo
Além disso, as almas fracas e não confirmadas estão normalmente cheias de perturbações, e vivem sem aquela convicção do amor de Deus e aquela paz espiritual e conforto que outros desfrutam. Seria de se esperar que nenhum outro argumento se fizesse necessário para convencer as pessoas a se preocuparem com sua fraqueza e enfermidade espiritual, do que as inquietações e perturbações que sempre as acompanham.
É muito mais penoso para um homem enfermo caminhar uma milha, do que para um saudável caminhar dez. Para alguém aleijado ou enfermo, cada passo é acompanhado de sofrimento, e tudo o que faz lhe é doloroso; enquanto que para alguém saudável, fazer muito mais seria apenas um passeio. Oh, não se deleitem, portanto, na insuficiência de vocês; não escolham viver em inquietações e tristezas; mas esforcem-se para ser confirmados e crescer na graça, que suplanta as fraquezas e supera lamentos e gemidos, a fim de que venham a conhecer a vida confortada de um crente confirmado. Oh, quão eficaz e alegremente vocês viveriam a vida cristã; quão mais fácil, doce e proveitosa ela lhes pareceria, se fossem cristãos fortes e confirmados!
Ora, as almas daqueles que não são confirmados estão expostas à toda sorte de tentação do seu malicioso inimigo. Quantas questões de menor importância as inquietarão e perturbarão! Cada passagem das Escrituras que não entendem, e que parecem ir contra eles, os perturba. Por mais clara e cuidadosa que seja a pregação de um ministro, o que, de algum modo não entendem, é para eles motivo de inquietação. As obras da providência de Deus os perturbam, porque não as compreendem. As aflições serão mais amargas tanto para a mente como para o corpo, e os deixarão exageradamente perplexos, porque não as entendem, ou porque não têm vigor espiritual para suportá-las e tirar proveito delas. As misericórdias mais doces da prosperidade perderão muito das suas doçuras, por falta de sabedoria santa e vigor espiritual para digeri-las.
Que pessoa escolheria um estado de fraqueza e deficiência espiritual ao invés de um estado confirmado e saudável? Vocês correrão de um lugar para outro à procura de um médico quando estão doentes; não é a saúde, estabilidade, paz e vigor espirituais da almas de vocês muito mais importante?

6o Incentivo
Além disso, são os crentes fortes e confirmados que fazem verdadeiro uso e se beneficiam de todas as ordenanças de Deus. Carne só é digerida por um estômago sadio. Estes, não a desperdiçam. Para eles, a carne é agradável e nutritiva. E assim acontece com os crentes confirmados, com relação às ordenanças de Deus.
Mas quanto às almas fracas e não confirmadas, quanto dos meios de graça são desperdiçados! Quão pouco gosto encontram neles! Eu não nego que obtenham algum proveito e façam algum uso deles; pois embora uma pessoa enferma tire pouco proveito da carne que come, sem ela, não poderia continuar vivendo; e embora o alimento não o torne forte e saudável, ainda assim serve para sustentar sua débil vida; mas isso é tudo, ou quase tudo.
Que coisa triste, para vocês e para nós, quando os ministros - que são como que enfermeiros da igreja, ou dispenseiros da casa de Deus, e dão a vocês toda a alimentação devida - vêem que tudo o que derem não poderá fazer nada mais do que mantê-los vivos! Sim, quão freqüentemente vocês reclamam da comida, e não gostam dela! Ou não podem engoli-la, pois algo nela os incomoda, seja quanto ao conteúdo, seja quanto à forma! Se o ministro desagrada vocês, o frágil estômago de vocês rejeita a comida, argumentando que não gostam da receita, ou que as mãos dele não estão tão limpas como queriam. “A alma farta pisa o favo de mel, mas à alma faminta todo amargo é doce”. Ou, se conseguem engolir, dificilmente retêm o alimento, mas acabam lançando-o fora diante de nós. Desse modo, boa parte dos nossos labores são desperdiçados, doutrinas santas são perdidas, e sacramentos e outras ordenanças não são aproveitados como poderiam, porque vocês não têm saúde espiritual para digeri-los.
Esforcem-se, portanto, para ser edificados e confirmados na fé.

7o Incentivo
Eu rogo que atentem para a condição do mundo em geral, e vejam, se não necessita da mais forte ajuda. Mas os fracos e doentes, ao invés de poderem ajudar os atormentados, são um peso para os outros.
Há uma multidão ao redor de nós e espalhada pelo mundo afora, ignorante, ímpia e em profunda miséria espiritual. E, havendo tão poucos que podem ajudá-los, o que poderão fazer, se forem bebês espirituais? Multidões vivem obstinadas em seus pecados, cegos e empedernidos, cativos do diabo, os quais se entregaram para a prática do mal. E não contarão estas miseráveis almas senão com crianças ou enfermos para ajudá-las? Eu digo a vocês, que a enfermidade deles desafia os mais habilidosos médicos; os homens mais sábios da Inglaterra não conseguem persuadir um obstinado inimigo da piedade a amar de coração a vida santa; ou convencer uma pessoa supersticiosa do seu erro; ou uma pessoa gananciosa do seu amor pelo mundo; ou um beberrão ou glutão da sua sensualidade. Como então cristãos tolos e ignorantes poderão persuadi-los?
Eu sei que não é a habilidade do instrumento, mas a vontade de Deus, que é a causa principal; mas Deus costuma agir por meio de instrumentos, de acordo com a qualificação deles para a obra. Que será de um hospital aonde todos estão doentes e não há uma só pessoa sadia entre eles para ajudar! Pobres cristãos fracos, vocês não estão em condições de ajudar sequer uns aos outros; quanto mais de ajudar o mundo morto e ímpio. Ai do mundo, se não contasse com ninguém em melhor estado para ajudá-lo. E ai de vocês mesmos, se não contassem com a ajuda de alguém mais forte do que vocês, visto que é determinação de Deus agir por meio de instrumentos.
Ora, uma criança ou uma pessoa doente não está habilitada para labutar e prover as necessidades da família e a trabalhar para outros. Na verdade, eles é que precisam de cuidado na família; e outros devem trabalhar por eles. Que coisa terrível; serem pesos para a igreja, quando deveriam ser suas colunas! Serem cegos e aleijados, quando deveriam ser os olhos do cego e os pés do coxo!
Eu não digo essas coisas, para depreciar as misericórdias de Deus para com vocês, nem para desvalorizar a grande felicidade dos santos - mesmo do mais pobre e fraco deles. Eu sei que Cristo é compassivo para com os cristãos sinceros mais fracos, e que não os esquecerá. Mas, embora estejam em uma condição muito mais elevada do que a do mundo que está morto - mesmo de cama, gemendo e débeis; oh! quão aquém estão de um crente confirmado e saudável. Vocês estão felizes por estarem vivos, mas infelizes por estarem doentes ou fracos.

8o Incentivo
Isto não é tudo; vocês não apenas estão inabilitados para servir a igreja; como também a maioria dos problemas e divisões na igreja são provocados por pessoas inconstantes e fracas como vocês.
Em todas as épocas, isto tem prejudicado mais a igreja do que o fogo e a espada da perseguição pagã. Estes neófitos, como Paulo os chama - isto é, os principiantes na religião -, são os que mais facilmente se ensoberbecem e incorrem na condenação do diabo.[3] São estes os que são mais facilmente enganados pelos sedutores, visto que não estão habilitados a fazer uso da verdade, e a refutar os argumentos aparentemente plausíveis dos adversários. Ademais, eles não têm aquele amor enraizado pela verdade e caminhos de Deus, que os manteria firmes; e, assim, rapidamente se rendem como soldados covardes, que quase não oferecem resistência. Como Paulo diz, crentes neste estado são “como meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos que induzem ao erro.”[4] Se continuarem crianças, o que poderemos esperar de vocês, senão que sejam agitados de um lado para o outro?
Desse modo, vocês gratificam a Satanás e aos sedutores, e sequer se dão conta disso. E, assim, contribuem para o endurecimento do coração dos incrédulos para continuarem em seus caminhos; e entristecem o coração dos piedosos, e, especialmente, daqueles que conduzem os rebanhos. Que terrível que tantos da própria igreja, sejam a causa do seu flagelo e infortúnios!
Ainda que não tenham sido levados a fazer nada para o opróbrio da igreja; ainda assim, que tristeza nos causa, ver tantos entre vocês malograrem! Oh, pensa um pobre ministro, quanta esperança eu nutria com relação a estes professos; mas eles terminaram fracassando! Oh, isto é uma marca da advertência do apóstolo: “Não vos deixeis envolver por doutrinas várias e estranhas...” Seu ensino para prevenir tal coisa, “...é estar o coração confirmado com graça”.

9o Incentivo
Considere também, que é desonra para Cristo, que tantos da sua família sejam assim tão débeis, tão inconstantes, tão inseguros e inabilitados como vocês são!
Eu não quero dizer que sejam real desonra para Ele; pois se todo o mundo O esquecesse, estariam desonrando a si mesmos e não a Ele, aos olhos de qualquer juiz qualificado - como seriam desonrados os observadores e não o sol, se estes afirmassem que o sol é trevas. Mas vocês são culpados de O desonrarem aos olhos de um mundo perdido. Oh, que mau testemunho é para a piedade, que tantos professos sejam tão ignorantes e imprudentes; que tantos sejam tão volúveis e inconstantes; que tantos manifestem tão pouco da glória da sua santa vocação. Todos os inimigos de Cristo fora da Igreja, não são capazes de desonrá-lO tanto quanto vocês, que são chamados pelo Seu nome, e que se consideram dEle. Enquanto a graça em vocês for fraca, a corrupção será forte; e todas estas corrupções serão a desonra da sua profissão de fé. Não parte o seu coração ouvir um ímpio apontar para você quando passa e dizer: “Lá vai um crente ganancioso”; ou “Lá vai um crente orgulhoso”, “que gosta de bebida” e “contencioso”? Se vocês tem algum amor por Deus e de algum modo sentem por Sua desonra, me parece que estas coisas deveriam tocar o seu coração!
Enquanto forem fracos e não confirmados, vocês irão, como as crianças, tropeçar em cada pedra, cair constantemente e ceder às tentações, as quais um crente mais forte resistiria com facilidade; e , tornando-se em escândalo, todas as suas faltas serão atribuídas à religião pelos homens tolos. Se você falar mal de alguém, ou reclamar, ou enganar ou extrapolar na barganha, ou cair em alguma opinião ou prática escandalosa, a sua religião é que será responsabilizada diante do mundo. Até onde posso lembrar, uma das principais barreiras para a conversão dos homens e uma das principais causas de empedernimento dos ímpios em seus maus caminhos é quando os piedosos são tidos por impertinentes, não pacíficos, gananciosos, orgulhosos e interesseiros. Vocês deveriam temer os “ais” de Cristo, “Ai do homem pelo qual vem o escândalo”. Se forem crianças, estarão sujeitos a severas disciplinas; se forem hipócritas, estarão sujeitos aos sofrimentos eternos. O mundo não pode julgar mais do que vê; e quando vêem professos da santidade ser tão parecidos com os homens comuns, e em algumas coisas piores do que muitos deles, o que vocês podem esperar senão que desprezem a religião, e a julguem por seus professos, e digam: “se essa é a religião deles que fiquem com ela, estamos tão bem sem ela quanto eles”. Desse modo, os santos caminhos de Deus são difamados. Se vocês não excederem outros na excelência do testemunho, a fim de que o mundo possa ver neste espelho a excelência da religião de vocês, então podem esperar que eles a considerarão como algo comum, que, no discernimento deles, produz apenas frutos comuns.
Vocês deveriam ser tais, que Deus e a Igreja pudessem orgulhar-se de vocês diante do acusador. Então, vocês seriam uma honra para a Igreja quando Deus pudesse dizer de vocês o que disse de Jó: “Observaste a meu servo Jó? porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal”. Se pudéssemos dizer o mesmo de vocês aos perversos inimigos: “Observem os piedosos; não há ninguém como eles entre vocês; homens santos, sábios, retos, sóbrios, mansos, pacientes e pacíficos, vivendo totalmente para Deus como estrangeiros na terra, e cidadãos dos céus”, então vocês seriam os ornamentos da sua santa profissão. Se vocês fossem cristãos dessa natureza, nós poderíamos nos orgulhar de vocês, para opróbrio dos adversários.

10o Incentivo
Além disso, enquanto não for confirmado, você pode facilmente tornar-se instrumento de Satanás, e promover seus desígnios.
A fraqueza do entendimento, o poder das paixões, e especialmente, a influência que o eu carnal ainda tem sobre vocês, pode deixá-los suscetíveis a tentações, e fazer com que sejam empregados em muitas obras de Satanás, e com que fiquem do lado dele e se oponham à verdade. Que coisa triste, para alguém que já sentiu o amor de Cristo! Foram vocês aquecidos por Seu maravilhoso amor, lavados por Seu sangue, e salvos por Sua incomparável misericórdia; contudo, não lhes parte o coração pensar que, não obstante tudo isso, sejam enredados por Satanás a magoar seu Senhor, vituperar Sua honra, resistir a Sua causa, apoiar Seus inimigos e agradar o diabo? Eu afirmo, com vergonha e dor no coração, que o excesso de fraqueza e a instabilidade de crentes professos - os quais temos esperança que já têm um coração, pelo menos em parte, correto - têm sido instrumentos mais poderosos de Satanás para a consecução dos seus desígnios, para obstáculo do evangelho, para a vituperação do ministério, para divisão da igreja, e impedimento de reformas espirituais, do que a maioria dos notórios profanos!
Quantas esperanças tivemos um dia, de ver uma florescente piedade e feliz união entre as igrejas e servos de Cristo na Inglaterra! E quem foi que não apenas frustrou essa esperança, mas quase a partiu em pedaços? Alguém contribuiu mais para isso do que crentes professos fracos e instáveis? Que triste confusão há na Inglaterra como um todo em nossos dias, devido terem as igrejas sido divididas em seitas, devido a disputas e contendas de cristãos contra cristãos, e devido a um odioso abuso das santas verdades e ordenanças de Deus! Quem é culpado disso, mais do que tais instáveis professos da piedade? Que opróbrio maior poderia advir sobre nós, do que o adversário contemplar-nos arrancando os olhos uns dos outros; odiando, perseguindo, maldizendo-nos uns aos outros; e ver-nos destruindo a casa de Deus com nossas próprias mãos, e fazendo em pedaços as pobres igrejas, enquanto homens brigam para ver quem prevalece para reformá-la? Que diversão é para o diabo, quando ele pode tomar seus declarados inimigos pelos ouvidos, e fazê-los lançarem-se uns contra os outros! Quando, ele se propõe causar grandes estragos na igreja e obra de Cristo, ele pode simplesmente convocar crentes instáveis para fazê-lo! Quando ele quer tornar a piedade em escândalo, quem ele chama para realizar tal obra, senão a professos da piedade? Alguns provocam escândalo; enquanto outros o agravam e divulgam.
Quando ele quer ver uma igreja dividida, quão rapidamente encontra uma razão de discórdia! E quem fará isso, senão os membros instáveis da própria igreja? Quando ele quer ver a verdade ser objetada, e o erro e as trevas promovidos; quem fará isso, senão professos da verdade? Basta persuadir alguns deles de que a verdade é erro e o erro é verdade, e o estrago está feito: eles marcharão furiosamente contra o Mestre deles, e pensarão que estarão Lhe prestando um serviço, enquanto, na verdade, estão se levantando contra Ele, escarnecendo e envergonhando, quando não matando Seus servos. Quando ele quer ver divisões publicamente mantidas nas igrejas do mundo inteiro, basta apossar-se de pastores instáveis e de outras pessoas, com um zelo perverso por meras palavras e idéias - como se a vida da igreja consistisse nisso; e eles serão instrumentos do diabo, atendendo imediatamente ao seu chamado. E assim, consumarão seu desígnio - talvez por meio do voto da maioria; e todos os que não concordarem com eles, serão chamados de heréticos; e a igreja terá novos artigos acrescentados à sua fé, sob a pretensão de corroborar e expor os antigos. Desse modo, quando Satanás tem algum trabalho para realizar - se os pagãos e infiéis não puderem fazê-lo - basta convocar os cristãos; se os inimigos beberrões e malignos não puderem realizar, basta chamar alguns instáveis professos da piedade que eles o farão; juntamente com aquela classe mais indigna de pastores que tenham algum propósito carnal ou zelo cego e voraz.
Oh, cristãos, em nome de Deus, assim como evitariam estas atitudes diabólicas, empenhem-se por alcançar graça confirmadora e fortalecedora; e não se dêem por satisfeitos com o estado infantil, fraco e instável de vocês. Se foram libertados de Satanás, e o repudiaram verdadeiramente, e provaram a grande salvação de Cristo, vocês deveriam até mesmo tremer em considerar quão terrível seria se, depois de tudo isto, devido a fraqueza de vocês, viessem a ser encontrados servindo ao diabo e injuriando ao amado Senhor de vocês! Como podem injuriá-lO, aqueles a quem Ele redimiu da condenação? Como podem ser empregadas para destruir Seu reino, as mãos que foram lavadas por Ele, e que deveriam edificá-lo (o reino)? Vocês seriam como Judas, o qual, tinha as mãos no mesmo prato em que seu Mestre, enquanto seus lábios o traíam.

11o Incentivo
Além disso, enquanto forem fracos e não confirmados, vocês encorajarão sobremaneira o ímpio nas suas falsas esperanças, por serem tão parecidos com eles como são.
Quando eles vêem que vocês quase não os excedem, e em muitas coisas são tão maus ou até piores do que eles, isto os persuade fortemente de que o estado deles é tão bom quanto o de vocês, e que podem ser salvos assim como outros, visto que a diferença parece tão pequena. Eles sabem que o céu e o inferno são muito diferentes; e que não têm nada a ver um com o outro. Portanto, dificilmente acreditarão que poderão ser lançados no inferno, enquanto que pessoas que parecem ser tão pouco diferentes deles vão para o céu. Vocês não acreditariam o quanto isso os deixa obstinados em seus pecados. Enquanto os ministros se empenham em manifestar a hediondez do pecado dos ímpios, e a quebrantar o coração deles com os terrores do Senhor; como os acalma e tranqüiliza, ver pecados semelhantes e pessoas tão más quanto eles, entre os que professam a fé cristã. “Se estes”, dizem eles, “serão salvos com todos esses pecados; por que devo atemorizar-me?”
Oh, desprezíveis, inúteis e escandalosos professos da religião; enquanto nos empenhamos por tantos anos, estudando e pregando, visando a conversão dos homens, vocês vão e desfazem tudo o que fizemos por meio do escândalo, leviandade ou imprudência, em uma hora! Quando estamos perto de persuadir as pessoas a se converterem dos seus maus caminhos, vocês os persuadem a retroceder, e fazem mais mal pela fraqueza e escândalo da vida de vocês, do que o bem que muitos de nós podemos com nossa vida e doutrina. Quando estamos conseguindo trazer pecadores às portas da vida, vocês os arrancam das nossas mãos e os conduzem de volta ao cativeiro.
Não lhes parte o coração, pensar que uma alma que seja - quanto mais muitas - venha a ficar de fora da glória e pereça em miséria eterna, em parte por culpa de vocês? Meditem sobre isso, e eu creio que desejarão graça confirmadora.

13o Incentivo
Eu insto que considerem que a excelência, glória e brilho das graças de vocês, é um dos meios designados por Deus para a honra do Seu Filho, do Seu evangelho e da Sua igreja, e para a convicção de pecados e conversão do mundo descrente. Portanto, se vocês não usarem esses meios, estarão roubando a Deus e a igreja daquilo que lhe é devido, e privando os pecadores de um dos meios de salvação.
Vocês são exortados: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”. Cristãos, despertem para considerar o que podem fazer com as graças que têm. Vocês podem honrar e agradar ao Deus vivo por meio delas! Assim como a excelência de uma obra honra o trabalhador que a fez, assim também suas graças e vidas devem honrar a Deus. Vocês têm as almas dos fracos para confirmar e a dos ímpios para ganhar, através de suas vidas. Vocês deveriam ser todos pregadores - pregando à medida em que passam por este mundo, como uma candeia ilumina onde quer que passe. Assim como nós (pastores) somos enviados para salvar pecadores, como embaixadores de Cristo, através da proclamação pública da sua vontade; assim também vocês são enviados para salvá-los, como servos de Cristo, e nossos auxiliares; e devem pregar por meio das suas vidas e exortações pessoais, assim como o fazemos por meio de instrução autorizada. Uma boa vida é um bom sermão. Sim, alguns poderão ser ganhos por meio dos sermões de vocês, os quais não virão por meio dos nossos.
Mesmo as mulheres, que devem ficar caladas na igreja, são exortadas por Pedro a este tipo de pregação: “...para que, se alguns deles ainda não obedecem à palavra, sejam ganhos, sem palavra alguma, por meio do procedimento de suas esposas”. Milhares podem entender o significado de uma boa vida, os quais não podem entender o significado de um bom sermão. Por esse meio, vocês podem pregar a pessoas de todas as línguas, embora tenham aprendido apenas uma; pois uma vida santa, piedosa e humilde fala em todas as línguas do mundo, a todas as pessoas que tiverem olhos para ler. Este é o alfabeto e língua universal pelo qual todos podem ouvir falar das maravilhosas obras do Espírito Santo.
Portanto, eu os desafio, cristãos: não priveis Deus da honra que Lhe é devida, nem a igreja, nem as almas dos ímpios, desta excelente e poderosa ajuda que lhes devemos; permanecendo com suas mentes fracas e instáveis, e com suas vidas maculadas. Mas cresçam e alcancem a medida necessária para tal obra. Assim como não ousariam silenciar os pregadores do evangelho, assim também, não ousem vocês mesmos deixar de pregar por meio de uma vida santa e exemplar.
Vocês acreditam que crentes professos débeis, levianos e escandalosos podem fazer algum bem maior por meio de tais vidas? Vocês acham que o coração das pessoas serão levados a um amor pela santidade, ao conversar com crentes que malmente podem dizer uma palavra que faça sentido em favor da sua religião; ou ao verem professos tão cobiçosos de conseguirem um lucro maior, quanto os mundanos que não têm esperanças maiores; ou ao ouvi-los reclamar, mentir ou difamar; ou ao vê-los ir atrás de todo ensino que lhes seja apresentado com algum plausível fervor? Vocês pensam que as pessoas serão ganhas por meio de vidas como essas?

14o Incentivo
Vocês já consideraram que grandes coisas podem ainda vir a sofrer por Cristo?
Vocês podem vir a ser obrigados a abandonar tudo o que têm. Vocês não poderão poupar suas vidas, se ele ordenar que a percam. Vocês terão que sofrer com Ele, se quiserem ser com Ele glorificados. Vocês podem vir a ser chamados a confessar a Cristo diante de reis e juízes da terra; então, se o negarem, Ele os negará, e se envergonharem dEle, Ele se envergonhará de vocês. Vocês podem vir a ser chamados a enfrentar uma grande provação, “e a sofrer o espólio dos vossos bens” e, em uma palavra, perder tudo. Vocês não acham que necessitarão, então, de mui vigorosa graça? Vocês não acham que precisam ser crentes confirmados e radicados, a fim de que possam enfrentar tais tempestades? Vocês não têm visto muitos que pareciam fortes, serem derrotados em tempos de provação? E ainda assim, pretendem estacionar em um estado fraco?
Talvez vocês respondam que não podemos permanecer inabaláveis por nossas próprias forças, e que, portanto, Cristo pode sustentar o mais fraco, enquanto que o forte cai. A isto, respondo: é verdade; mas é comum Deus agir através de meios. O Seu modo de operar com relação à graça é semelhante ao seu modo de agir com relação à natureza. Portanto, Ele normalmente enraíza e fortalece aqueles a quem quer que permaneçam inabaláveis. Sim, ele os equipa e fortalece, e, então, ensina-os a usar suas armas.
“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo, porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mal, e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis”.
Atentem para quando vocês são “...iluminados para sustentarem grande luta e sofrimentos; ora expostos como espetáculo, tanto de opróbrio, quanto de tribulação; ora tornando-vos co-participantes com aqueles que desse modo foram tratados... com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa”.[13] Para que permaneçam firmes em tempos de perseguição, é necessário que a Palavra seja profundamente enraizada em seus corações. Vocês precisam estar edificados em uma rocha, se quiserem permanecer inabaláveis em tempos de tempestades.

15o Incentivo
Considerem também, que as mesmas razões que os moveram no início a se converterem, deveriam movê-los, agora, a serem crentes fortes e prósperos espiritualmente.
Vocês não trocariam a parte que têm em Cristo pelo mundo inteiro, se, realmente, têm o menor grau de graça que seja. Se o início é bom e necessário, o desenvolvimento não pode ser mal ou desnecessário. Se um pouco de graça é desejável, certamente mais graça também é desejável. Se naquela época foi razoável deixar tudo por Cristo e segui-lO, certamente também é igualmente razoável que vocês O sigam até o fim, até alcançarem aquela santidade, a qual é o propósito pelo qual a princípio O seguiram. Ou será que vocês acharam que Deus é um mestre ruim ou um deserto estéril; ou que Sua obra é algo inútil? Respondam que sim, e eu ousarei dizer que são bastardos - para usar as palavras do apóstolo - e não cristãos.
Vocês O têm experimentado. Que mal encontraram nEle; ou que mal fez a vocês; para que agora comecem a fazer uma pausa, como se estivessem em dúvida, se seria melhor prosseguir? Se Cristo um dia foi necessário, Ele não continua ainda sendo necessário? Se os céus e a santidade um dia lhes pareceram bons, estejam certos que continuam sendo. Portanto, prossigam, alcançando mais; e nunca se esqueçam das razões que a princípio os persuadiram a buscar estas coisas.

16o Incentivo
E mais ainda: vocês agora têm o acréscimo de muitas experiências, as quais certamente serão uma excelente ajuda para estimular os seus sentimentos. Quando, a princípio, vocês se arrependeram e vieram a Cristo, não tinham nenhuma experiência desta graça salvadora especial; mas vieram, baseados apenas, em ouvir e crer nela. Agora, entretanto, vocês já provaram que o Senhor é gracioso; receberam das Suas mãos, o perdão dos pecados, o espírito de adoção e a esperança da glória, os quais não tinham antes; já tiveram muitas orações respondidas, e alcançaram muitos livramentos. E, agora, pretendem parar, quando todas estas experiências os convocam a ir avante? Novas experiências não deveriam ser acrescentadas às antigas, tornando-se assim em meios para aumentar o zelo e a santidade de vocês? É certo que um salário maior e mais encorajamento deveriam resultar em mais trabalho e diligência. Portanto, procurem progredir.

17o Incentivo
Muitos de vocês também precisam considerar que já estão há bastante tempo na família e escola de Cristo. Se fossem principiantes, eu poderia exortá-los a crescer, mas não poderia reprová-los por não haverem crescido. Entretanto, que multidão de anões tem Cristo, os quais são como crianças aos vinte, quarenta ou sessenta anos de idade. É triste estar por tantos anos na Sua escola, e ainda permanecer nas classes mais atrasadas! “Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes novamente necessidade de alguém que vos ensine de novo quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite, é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal."
Oh, pobre crente fraco e enfermo! Tens tu estado por tanto tempo contemplando a face de Deus pela fé; e ainda assim não O amas mais do que O amaste no princípio? Por tanto tempo tens provado da Sua bondade, e não a vês ou aprecias mais do que no princípio? Estais sob Seus cuidados por tanto tempo, e não estais mais curado agora do que no primeiro ano ou dia? Tens ouvido e falado sobre os céus por tanto tempo, e apesar disso não estais mais preparados para os céus? Tens ouvido e falado tanto contra o mundo e a carne, e não obstante, o mundo ainda é tão atrativo para ti quanto no princípio; e a carne tão forte quanto no início da tua profissão? Oh, que pecado e vergonha! Que injúria para Deus e para ti!
Considerem também, não somente o tempo, mas os meios de graça que têm usufruído. Quem tem recebido mais poder, plenitude e pureza de ordenanças do que vocês? Pouquíssimos. Certamente, não há muitos lugares no mundo como a Inglaterra no que diz respeito às manifestações celestiais e das riquezas das preciosas ordenanças de Deus. Vocês têm mais sermões do que poderiam desejar; e estes dificilmente poderiam ser mais claros e urgentes - tão urgentes, como se os ministros de Cristo parecem que perecerão se vocês perecerem. Vocês, com igual freqüência, também têm tido livros claros e poderosos. Vocês têm tido as admoestações e exemplos dos piedosos com os quais convivem. O que mais poderiam desejar? Deveriam pessoas assim alimentadas manterem-se em estado de contínua subnutrição? São a ignorância, o desânimo, o mundanismo, e egoísmo desculpáveis depois de todos esses meios de graça? Certamente é justo que Deus espere que vocês sejam todos gigantes - crentes piedosos, maduros e confirmados. Qualquer que seja o caso de outros, certamente esta deveria ser a estatura de vocês.

18o Incentivo
Também me parece que vocês deveriam ser incentivados ao considerar o quanto outros têm progredido, em menos tempo e com muito menos meios de graça do que vocês têm tido; e como alguns dos seus vizinhos, recebendo os mesmos meios, progrediram muito mais que vocês.
Jó, que foi tão exaltado pelo próprio Deus, não dispunha dos meios de graça que vocês dispõem. Abraão, Isaque, Jacó e José, nenhum deles teve os meios de graça que vocês têm! “Muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram; e ouvir o que ouvis, e não ouviram.”Embora João Batista tenha sido maior do que quaisquer dos profetas, ainda assim, o menor no reino do evangelho é maior do que ele no que diz respeito aos meios de graça. Assim como os tempos do evangelho têm luz muito mais clara, e nos dá maiores medidas de graça; assim também os verdadeiros e genuínos filhos do evangelho deveriam ser mais confirmados, fortes e piedosos do que aqueles que viveram sob períodos mais escuros e escassos da administração da promessa.
Vocês não vêem o quanto foram superados por muitos dos pobres vizinhos de vocês, os quais são reputados inferiores do que vocês pelo mundo e na estima dos homens? Quantos neste lugar, eu ouso dizer, brilham diante de vocês em conhecimento, humildade, paciência e em vida imaculada e reta; em fervorosas orações e conduta piedosa! Pessoas que têm a mesma necessidade que vocês de preocuparem-se com os cuidados materiais; que não dispuseram de mais tempo para adquirirem estas qualificações; e não tiveram mais meios de graça do que vocês. Agora, eles brilham como estrelas na igreja na terra; enquanto que vocês são apenas como que faíscas, quando não nuvens.
Eu sei que Deus é o livre despenseiro das suas graças; entretanto, Ele nunca fica aquém, mesmo com relação ao grau, do que a própria pessoa almeja. Por isso, eu posso bem perguntar-lhes: por que não alcançariam vocês maior estatura, assim como outros que cercam vocês, se houvessem sido tão cuidadosos e diligentes quanto eles?

19o Incentivo
Considerem também que a santidade pessoal de vocês é da mesma natureza da que terão na glória, embora não no mesmo grau. Portanto, se vocês não estão desejosos de progredir, isso dá a entender que vocês não têm amor por suas almas nem pelo próprio céu.
Se vocês cessam de progredir em santidade, cessam de progredir em direção à salvação. Se vocês realmente desejassem ser perfeitos e abençoados, deveriam desejar aperfeiçoar-se nesta santidade que os habilitará a tornarem-se perfeitos na glória. Não há céu sem uma perfeição em santidade. Se, por conseguinte, vocês não desejam estas coisas, isso parece indicar que vocês não desejam a salvação.
Prossigam, portanto e cresçam como pessoas que estão crescendo em direção à glória. E se crêem que estão à caminho dos céus, estando mais próxima a salvação de vocês, do que quando à princípio creram, atentem, então, para que progridam com disposição mental celestial[17], e para que estejam mais maduros para a salvação do que quando no princípio creram. Quão mal age a pessoa que para à caminho do céu; especialmente quando já está há tanto tempo no caminho, que seria de se esperar que já houvesse avançado ao ponto de perdê-lo de vista!

20o Incentivo
Considere também, que quanto menor for a graça, menor será a glória; e que quanto maior for a santidade, maior será a felicidade de vocês.
Eu sei que a glória do menor dos santos no céu será extraordinariamente grande; mas, sem dúvida, quanto maior for sua medida mais indizivelmente desejável o será. Assim como não se coaduna com a verdade da graça, que uma pessoa fique satisfeita com um baixo nível de graça - embora reconheça ser isso misericórdia de Deus e que não merece nem mesmo o menor grau de graça; assim também, embora implore pela felicidade do menor santo na glória, e reconheça ser indigno do lugar mais insignificante nos céus, ainda assim deve almejar maior glória nos céus. Aquele que demonstra estar tão satisfeito com porções mínimas da glória, sem sinceramente aspirar por mais, revela estar também satisfeito em ter um conhecimento e amor de Deus pequenos; ser pouco amado por Ele; gozá-lO o mínimo possível; ter a menor participação em seus louvores, e em agradá-lO e glorificá-lO para sempre - pois, em todas estas coisas consiste a nossa felicidade.
Considerar a Parábola dos Talentos (Mt. 25).

21o Incentivo
Considerem também que Aquele com o qual vocês tem que lidar é um Deus de infinita grandeza e bondade; e portanto, não é pequena coisa estar habilitado para o seu serviço. Oh, se vocês tivessem apenas um vislumbre da Sua glória! Vocês então reconheceriam que não é coisa ordinária relacionar-se com tal espantosa magestade. Se vocês provassem mais da Sua bondade, os seus corações reconheceriam que o amor e serviço insignificante que lhe prestam é indigno dEle. Vocês Não ofereceriam coisas insignificantes a um rei, muito menos ao Supremo Rei dos reis. “Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; acaso terá ele agrado em ti, e te será favorável? diz o Senhor dos Exércitos... Mas vós o profanais, quando dizeis: A mesa do Senhor é imunda, e o que nela se oferece, isto é, a sua comida, é desprezível. E dizeis ainda: Que canseira! e me lançai muxoxos, diz o Senhor dos Exércitos; vós ofereceis o dilacerado, e o coxo e o enfermo; assim fazeis a oferta. Aceitaria eu isso da vossa mão? diz o Senhor. Pois maldito seja o enganador que, tendo macho no seu rebanho, promete e oferece ao Senhor um defeituoso; porque eu sou grande rei, diz o Senhor dos Exércitos, o meu nome é terrível entre as nações.”
Se vocês conhecessem melhor a majestade de Deus, saberiam que para Ele o melhor é muito pouco, e que leviandade não é tolerável no Seu serviço. Quando Nadab e Abiú aventuraram-se a apresentar fogo falso em seu altar e Ele os fulminou, Ele silenciou a Arão com a seguinte razão para o seu julgamento: “Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo”. Isto é, não aceitarei que nada comum seja oferecido a mim, mas serei servido do meu modo santo e peculiar.

22o Incentivo
Considerem também que um preço extraordinariamente alto foi pago pela redenção de vocês. Pois, “não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue de Jesus Cristo.” Foi um amor extraordinariamente grande este que foi manifestado pelo Pai e por Cristo na obra da redenção; tão alto que deixa perplexos anjos e homens na tentativa de compreendê-lo. Deveria isto tudo ser respondido com leviandade da parte de vocês? Deveria tal incomparável milagre de amor ser correspondido com amor inferior; especialmente tendo em vista que Cristo “a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras? Assim pois, tendo sido comprados por tão grande preço, lembrem-se de que “não sois de si mesmos, mas devem glorificar Aquele que vos comprou no corpo e no espírito”...

23o Incentivo
Considerem também que a glória prometida no evangelho não é algo pequeno, mas extraordinário, e que vocês vivem na esperança de tomarem posse dela para sempre.
Portanto, o amor e o interesse que vocês devem ter por ela deveriam ser extraordinários. Realmente é algo descabido e impensável ter um pensamento pequeno, uma palavra descuidada ou uma oração fria ou qualquer outra prática indevida com relação a assuntos como a glória eterna. Se vocês almejam realmente os céus, ajam de acordo. Um espírito gracioso, reverente e piedoso produzindo um serviço aceitável a Deus é apropriado àqueles que buscam “receber um reino inabalável”. Oh, que a nobre grandeza da esperança de vocês se manifeste na determinação, integridade e diligência de suas vidas!

24o Incentivo
Considerem também que não foram poucas e pequenas as misericórdias que vocês receberam de Deus; foram, sim, misericórdias inumeráveis, inestimáveis e extraordinariamente grandes.
Portanto, vocês não deveriam retribuir com sentimentos frios e com desinteresse. A misericórdia trouxe vocês ao mundo; a misericórdias nutriu vocês, e a misericórdia tem defendido e mantido vocês e os provido abundantemente. Seus corpos dependem dela; suas almas foram restauradas por elas; ela deu a vocês a sua existência; ela resgatou vocês da miséria; salva vocês do pecado, de Satanás e de vocês mesmos. Tudo o que vocês têm no presente, devem atribuir a ela. Tudo o que podem esperar do futuro depende dela. Ela é extremamente doce na sua qualidade; o que pode ser mais doce do que a misericórdia para as almas? Ela é extremamente grande na sua quantidade; “A misericórdia do Senhor chega até aos céus, até às nuvens a sua fidelidade. A sua justiça é como uma grande montanha; os seus juízos, como um abismo profundo... Quão grandes são as suas benignidades para aqueles que o temem; as quais ele tem para com aqueles que confiam nele diante dos filhos dos homens... As suas misericórdias alcançam até os céus, e sua verdade até as nuvens.”
Oh, que coração insensível é aquele que não compreende a voz de todas as suas maravilhosas misericórdias! Sem dúvida, elas falam a linguagem mais clara no mundo, requerendo de nós grande retribuição em amor, louvor e obediência ao liberal outorgante delas. Devemos dizer, com Davi, “Bendito seja o Senhor, que engrandeceu a sua misericórdia para comigo, numa cidade sitiada... Amai o Senhor, vós todos os seus santos. Pois o Senhor preserva os fiéis.” “Ensina-me Senhor, o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o coração para só temer o teu nome. Dar-te-ei graças, Senhor, Deus meu, de todo o coração, e glorificarei para sempre o teu nome. Pois grande é a tua misericórdia para comigo; e me livraste a alma do mais profundo poder da morte.”
Indizíveis misericórdias devem, necessariamente, produzir profundas impressões e ser tão agradáveis à alma agraciada, que seria de esperar que elas operassem em nós as mais profundas resoluções. Ingratidão é um crime que até os pagãos detestam; e é uma profunda ingratidão se não manifestarmos extraordinário amor e obediência, diante das muitas e extraordinárias misericórdias que possuímos.

25o Incentivo
Considerem também, que os auxílios e meios de graça que vocês possuem para pro­gredir na santidade e obediência a Deus são extraordinariamente grandes. Assim tam­bém, grandes, deveriam ser a santidade e obediência de vocês. Vocês têm todo o livro da nature­za para instruí-los. Cada criatura pode ensinar Deus a vocês, e fala a vocês em alta voz, persuadindo seus corações para mais próximo dEle. Toda obra da providência ins­trui e persuade vocês. Cada página e linha das Escrituras incita vocês. Vocês têm minis­tros para ajudá-los; têm a comunhão dos santos; o exemplo dos piedosos e as advertên­cias do jul­gamento de Deus sobre os ímpios. Têm os sermões, os sacramentos, as ora­ções, a medita­ção e conferências, misericórdias para encorajá-los, e aflições para persuadi-los. O que mais desejam?

26o Incentivo
Há uma exigência extraordinariamente grande sobre vocês. Portanto, as suas resolu­ções deveriam ser extraordinariamente elevadas e suas diligências extraordinariamente grandes. A salvação de todos vocês que são convertidos pesa com relação a estabilidade e perseve­rança. Cristo “vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresen­tar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicer­çados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvis­tes”. Deus não recebe qualquer pessoa. Vocês devem conformar-se aos termos dEle para que sejam participantes da sua salvação. Ele não tem duas palavras. Ele disse o que es­pera de vocês, e assim agirá. O julgamento virá. Não há como escapar das mãos de Deus. Diante de tais exigências, que cristãos devemos ser? Quão firmes e abundantes na fé e retidão!

27o Incentivo
Considere também a grande prestação de contas que você terá que fazer. Quando for levado à presença do Deus vivo, e toda a sua vida, pensamentos e caminhos forem re­lembrados, e você vir as coisas que sucederão, e que aguardam o Juízo Final, então não haverá lembrança vaga; todas estarão bem vivas. Então até os ímpios desejarão fortemen­te ter andado por outro caminho. Desejarão a qualquer custo escapar daquele terrível jul­ga­mento. Quanto aos crentes, não deveriam agora estar despertados a se prepararem cui­da­dosamente para um dia como aquele?

28o Incentivo
Considerem também o grande empenho empregado com relação às futilidades da vida. Quanto esforço para alcançar honras e riquezas neste mundo; para satisfazer a carne; para acumular tesouros sobre a terra; e quanto labor pela comida que perece. Oh, quanto empe­nho portanto deveria se demonstrar pelos tesouros celestiais e eternos!

29o Incentivo
Considerem também quão diligentes deveriam ser, visto que, é certo que jamais irão tão alto nem serão tão diligentes, embora tenham feito o melhor que puderem. Sim, aqueles que mais progredirem, ficarão tão aquém que sentarão e lamentarão não terem alcançado mais. Os maiores santos da terra confessarão lamentando quão pouco é o amor deles por Deus em comparação com o que deveria ser; quão aquém estão diante dos seus deveres; quão aquém da gloriosa majestade de Deus; quão aquém do precioso amor de Cristo, da preciosidade das almas, da glória eterna, das misericórdias que deveriam aque­cer nossos corações, das nossas grandes necessidades, e conseqüentemente, quão aquém dos seus próprios desejos. Anseiem, portanto, pelas melhores coisas enquanto podem al­cançá-las.

30o Incentivo
Finalmente, considerem quão grande é o compromisso de vocês, crentes sinceros, para com Deus.
a) Vocês estão mais estreitamente relacionados com Cristo do que quaisquer outros. Portanto, deveriam ser mais preocupados em não ofendê-lO e serem destacados em seu serviço.
b) Vocês estão compromissados com Ele por votos e alianças mais freqüentes do que quaisquer outros homens. Assim como Josué disse a Israel, “eis que esta pedra será tes­te­munho contra vós outros para que não mintais a vosso Deus”. Assim também posso di­zer, que os lugares onde vocês se ajoelharam, oraram e fizeram promessas, serão tes­temu­nhas contra vocês se não ficarem firmes com Deus. As igrejas onde se congregaram, os lu­gares onde andaram em meditação solitária, as pessoas que ouviram suas promessas e pro­fissões de fé, tudo testemunhará contra vocês se não ficarem firmes.
c) Foram vocês que desfrutaram do cerne das misericórdias de Deus. Outros tiveram apenas as migalhas que caíram das vossas mesas. Outros tiveram apenas as graças co­muns; mas vocês tiveram as grandes e especiais misericórdias que acompanham a salva­ção.
d) Vocês têm o Espírito e uma vida divina dentro de vocês, os quais o resto do mundo não conhece. Certamente Aquele que vos fez novas criaturas e vos fez participantes da natureza divina, espera algo de divino nos sentimentos e devoções de vocês.
e) Além disso, é para vocês mais do que outros que a Palavra e mensageiros de Deus são enviados. Havia muitas viúvas nos dias de Elias e muitos leprosos nos dias de Eliseu, mas foi apenas para um deles que o profeta foi enviado. Nós, ministros, fazemos com que as multidões se enfureçam contra nós, e nos odeiem por magnificarmos a graça de Deus e por declararmos Seu amor especial para com vocês. Vocês foram escolhidos do mundo para a salvação; e não responderão a esta graça eletiva, admirável, tornando-se admira­vel­mente diferentes daqueles que perecerão, quanto à excelência, mansidão, humildade, auto-negação e piedade?
f) Além disso, vocês conhecem mais e têm mais experiências para assisti-los do que ou­tros. Outros apenas ouviram da hediondez do pecado, mas vocês a sentiram; outros ouvi­ram falar do desagrado de Deus, mas vocês o experimentaram quando seus corações foram quebrantados. Vocês não provaram da doçura do amor de Cristo? E não se maravi­lharam com as insondáveis riquezas da sua graça? Vocês provaram a doçura das esperan­ças da glória e dos poderes do mundo vindouro. Vocês perceberam a necessidade e exce­lência da santidade por experiências internas.
g) Além disso, o mundo espera muito mais de vocês do que de quaisquer outras pes­so­as. Deus espera mais de vocês; porque Ele lhes deu mais e pretende fazer mais com vocês. Devem vocês desfrutar das eternas alegrias do céu, enquanto que os vizinhos não santifica­dos perecem em tormentos, sem que vocês sejam mais empenhados em excedê-los? É ra­zoável esperar ser colocado eternamente em uma situação tão diversa da do mundo ímpio, tão diferente quanto o céu é do inferno, e ainda assim se contentar em di­ferir aqui tão pou­co deles em santidade?
h) Mais ainda, o próprio Deus se orgulha de vocês e conclama o mundo a observar a excelência de vocês. Ele colocou vocês como luz do mundo para serem contemplados pe­los outros. Ele vos chama, neste mundo, de “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos cha­mou das trevas para sua maravilhosa luz.”
i) Considerem esta como a maior motivação: Deus não apenas exalta e se orgulha de vocês, mas Ele também fez de vocês imagens vivas de Si mesmo, do Seu Filho Jesus Cristo, do Seu Espírito e da Sua Santa Palavra. E assim, Ele se expôs, ao Seu Filho, ao Seu Espírito e a Sua Palavra a ser apreendido pelo mundo conforme a vida de vocês. A imagem expressa do Pai é o Filho. O Filho é declarado ao mundo pelo Espírito Santo. O Espírito ditou as Escrituras Sagradas, as quais, portanto, testemunham do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Esta santa Palavra, tanto a lei como promessas, é escrita no coração de vocês, e aplicada no íntimo de vocês pelo mesmo Espírito. Assim como Deus imprimiu sua natureza santa nas Escrituras, assim Ele fez desta palavra o selo para imprimir nova­mente sua imagem no coração de vocês. E vocês sabem que os olhos podem discernir melhor a imagem impressa do que o próprio selo... Assim, se vocês têm sobre si as ima­gens vivas de Deus, de Cristo, do Espírito e da Palavra, e ainda assim forem cegos, mun­danos, cheios de paixões, orgulhosos, obstinados, preguiçosos e negligentes e tão pouco diferentes daqueles que carregam a imagem do diabo, o que vocês proclamam é que a imagem de Deus, de Satanás e do mundo diferem muito pouco.
j) Considerem finalmente, que os servos fiéis de Cristo são poucos. Logo, se vocês não honrarem o evangelho, ninguém o fará. Se vocês não viverem vida exemplar no mundo, quem o fará?
Conclusão dos Incentivos
Agora, meus irmãos, eu os exorto a considerarem sobriamente estas motivações. Elas não são razões suficientes para movê-los a buscar coisas mais elevadas, ao invés de per­ma­necerem na infância da santidade? É uma bendita misericórdia, eu confesso, que Deus te­nha dado a vocês uma verdadeira conversão, e as menores medidas da vida celestial; eu não estou estimulando-os a desvalorizarem-na. Não, eu estou acusando vocês de a esta­rem desvalorizando. Pois, se vocês valorizassem a conversão, desejariam sinceramente mais dela.