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domingo, maio 21, 2006

Capítulo 13

Um Missionário Valente e Ousado


O povo mais corajoso de toda a Europa morava nas montanhas e nos vales da Suíça. Não era chamada Suíça na época da Reforma. Era, no entanto, um grupo de treze estados, chamados cantões, que haviam conseguido libertar-se dos duques, reis e imperadores que governavam os outros povos da Europa. Cada cantão era governado por um grupo de cidadãos. Não havia outro lugar na Europa onde o povo governava a semelhança dessa gente iletrada, porém indomável, que não seria serva de nenhum senhor.
Logo após o ano 1500, os cantões suíços se defrontavam com uma grande questão: o que fariam da Reforma? Este movimento estava se espalhando pelos estados germânicos e havia começado paralelamente nos cantões. Ao norte, Ulrich Zwingli pregava com grande poder na igreja Grossmünster de Zurich. Seu primeiro sermão fora ali pregado em 1519, no Ano Novo, quatorze meses após Lutero ter pregado as suas noventa e cinco teses. Deste pequeno princípio, a Reforma suíça alastrou-se pelos outros cantões, Ao norte e ao leste, os cantões de língua germânica estavam debatendo se ficariam com Roma ou se passariam ao Protestantismo. Alguns se declararam fiéis a Roma. Outros preferiram a fé pregada por Zwingli e Lutero. Sendo que naqueles dias a igreja e o estado ainda estavam unidos, era necessário a um determinado cantão tornar-se oficialmente Protestante ou permanecer oficialmente Católico-Romano.
O cantão Protestante mais poderoso do norte era o de Bern. Havia um urso na sua chancela oficial. Todos os cantões reconheciam a conveniência de se precaverem quando o urso de Bern urrasse.
ern encetou alguma obra missionária nas terras e cidades sob seu controle. Tal atividade não era fácil, porquanto a Igreja de Roma estava disposta a lutar até a morte pelas áreas ainda em seu poder. O povo de Bern falava alemão. Precisava de alguém que pudesse enviar como missionário aos territórios do sudoeste onde se falava francês. Enviaram, pois, um francês de barba ruiva, o fogoso Guilherme Farel. Farel tinha sido convertido por intermédio do velho professor Lefèvre, e tinha escapado da França após árduo trabalho em Meaux e Paris.
Guilherme Farel levava adiante a sua tarefa missionária com audácia incomum. Nada receava. "Nunca em minha vida conheci um homem tão destemido", disse Erasmus a seu respeito, o qual, por sua vez, tinha sido taxado de adivinhador por Farel. Certa vez, quando passava uma procissão religiosa, Farel arrancou algumas relíquias das mãos de um padre e as jogou no rio. Noutras ocasiões entrava numa igreja de Roma, subia ao púlpito, e clamava mais alto do que o padre que estava entoando a missa. Onde quer que fosse, provocava uma tempestade. De cidade em cidade, nas praças, nos lares, nos salões, trovejava a sua mensagem. Tinha a capacidade de conduzir o seu auditório a um alto ponto de animação. Com brados e censuras e murmúrios e gemidos, e com linguagem singela e mordaz, arremessava suas setas aos corações da gente pacata e iletrada que afluía para ouvi-lo, Era tão tosco quanto eles, razão por que podiam compreender o seu jeito de falar. Esbravejava contra Roma. Proclamava as verdades bíblicas com since- ridade tão eloqüente que o povo era induzido ou a acreditá-lo imediatamente ou a atacá-lo com fúria pertinaz.
Em algumas cidades Farel era espancado e espezinhado, em outras ameaçado com trabucos e espadas. Foi esfolado tão severamente numa ocasião que alguém de Bern relatou que a sua face parecia ter sido rasgada pelas unhas de gatos enfurecidos. Mas Farel não parava. Nem tinha o cuidado de permanecer dentro do território de Bern. Caso um campo estivesse sem a semeadura do Evangelho, la chegava Farel, quer Bern o pudesse proteger quer não. Farel treinou um punhado de homens intrépidos para ajudá-lo. Não tinham medo da fome, do frio, da morte, ou de pessoa qualquer. Não sendo enxotados, permaneciam na cidade com tempo suficiente para a conversão de algumas pessoas para a Reforma. Enviavam, então, um aviso a Bern, cujo conselho de representantes, a seguir, escrevia aquela cidade solicitando um debate público entre Protestantes e a Igreja de Roma. Bern enviaria, então, algumas autoridades para tomar conta do debate, no final do qual o povo votaria, optando pela Reforma ou por Roma. Muitas cidades e vilas declaravam-se a favor da Reforma. Para tais lugares Bern enviava regras sobre os sacramentos e a liturgia. A missa era abolida. Estátuas e altares eram retirados das igrejas caso ainda não tivessem sido derrubados pelo excessivo entusiasmo dos novos Protestantes.
Era outubro de 1532, exatamente um ano após a morte de Zwingli, quando Farel e um companheiro missionário atravessaram a ponte elevadiça, entrando em Genebra pela primeira vez.
João Calvino estava em Orléans, na França. Concluía seu curso de direito, após a pouca vendagem do seu livro sobre Sêneca.